"O objetivo da ciência é descobrir e iluminar a verdade. E isso, eu tomo, é o objetivo da literatura, seja biografia ou história ou ficção. Parece-me, então, que não pode haver literatura separada de ciência."
Hoje vamos falar da bióloga marinha, escritora, cientista e ecologista norte-americana Rachel Louise Carson. Ela nasceu em Springdale, Pennsylvania, nos Estados Unidos, em 27 de maio de 1907. Desde muito nova era apaixonada pela natureza, bem como pela escrita. Com apenas 22 anos se formou em Biologia na Pennsylvania College for Women e logo após fez sua pós-graduação na Johns Hopkins University. Não conseguiu seguir para o doutorado logo em seguida, por mais que fosse de sua vontade, já que sua família necessitava de ajuda financeira, fazendo com que lecionasse durante alguns anos. No mesmo ano, em 1935, seu pai veio a falecer, o que piorou ainda mais a situação em sua casa. Rachel aceitou um trabalho no Departamento de Pesca dos Estados Unidos, que mais tarde foi renomeado para “U.S. Fish and Wildlife Service”, no qual desenvolveu um roteiro para uma série educativa sobre a vida aquática. Alguns anos depois, Rachel voltou com os estudos de pós-graduação no Marine Biological Laboratory, em Massachusetts. Desde seu trabalho no Departamento de Pesca, Carson dedicou suas pesquisas para a Biologia Marinha, e logo assumiu um cargo de bióloga aquática no US Bureau of Fisheries, e lá trabalhou até 1952.
Rachel Carson em 1962. (Fonte: https://www.lemonde.fr/en/m-le-mag/article/2022/05/27/rachel-carson-pioneer-of-political-environmentalism-and-the-first-great-whistleblower_5984839_117.html)
Sua carreira na escrita se iniciou no ano de 1941, quando ela juntou suas paixões da infância e publicou o seu primeiro livro: “Under The Sea Wind” (em tradução livre, “Sob o Mar-Vento”), que fala principalmente sobre os animais marinhos que ocorrem no litoral do Oceano Atlântico e o seu comportamento. Dez anos mais tarde, ela publicou o que veio a ser o seu best-seller, “The Sea Around Us” (em tradução livre “O Mar que nos Cerca”). O livro conta, em forma de um lindo romance, sobre a ciência e o estudo do oceano, recebendo várias premiações, além de ser traduzido para mais de 30 idiomas. Três anos depois a autora publicou o livro “The Edge of the Sea” (em tradução livre “Beira-mar), onde Carson explora as regiões costeiras rochosas, as praias arenosas e os recifes de coral, nos conduzindo a mundos desconhecidos para mostrar a beleza de uma piscina natural e contar a história de um grão de areia. A sua obra de maior sucesso, e que lhe rendeu mais um best-seller, foi publicada no ano de 1962. No livro “Silent Spring” (em tradução livre “Primavera Silenciosa”) Rachel desenvolve uma consciência mundial relacionada aos perigos da poluição ambiental, falando sobre os perigos existentes na utilização de pesticidas e a importância de o homem manter-se em equilíbrio com a natureza. A repercussão de seu último livro, mesmo que considerado um best-seller, rendeu acusações e ameaças contra Rachel, vindas de cientistas ligados a indústrias químicas e de alguns críticos, por conta dos assuntos abordados no livro que renderam muitos artigos questionando suas pesquisas, junto de muitas tentativas de invalidar o seu trabalho.
Rachel Carson em uma de suas saídas de campo. (Fonte: https://www.nrdc.org/stories/story-silent-spring)
Mas como e quando a bióloga marinha passou a se dedicar à pesquisa com agrotóxicos? Após a 2º Guerra Mundial, o uso de pesticidas sintéticos aumentou avassaladoramente, sendo usado inclusive como arma de guerra. Isso chamou a atenção da pesquisadora, que se incomodou com o seu impacto no meio ambiente. Ela mudou o foco de suas pesquisas, que passaram a ser principalmente o DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), um pesticida de baixo custo muito usado pela população para eliminar insetos, principalmente com o objetivo de combater doenças como a Malária, Febre amarela e Tifo, além de ser usado em larga escala para controlar pragas agrícolas. Esta substância era pulverizada sem nenhum cuidado com as pessoas e animais que o aspiravam. A partir daí passou a alertar o público sobre os efeitos destas substâncias a longo prazo e suas consequências. O nome de seu livro (Primavera Silenciosa, 1962) faz referência justamente ao silêncio dos pássaros mortos pelos efeitos dos agrotóxicos.
Rachel Carson em 1964. (Fonte: https://ecoleituras.com.br/primavera-silenciosa-silent-spring-de-rachel-carson/)
Infelizmente Rachel veio a falecer jovem, com 53 anos, devido a muitas complicações de um câncer de mama já em estado avançado. Ela não conseguiu ver os resultados de seu trabalho e o impacto que ele causou na sociedade. O legado que nos deixou é gigante e muito inspirador! Muitas pessoas continuaram o seu trabalho, como formas de buscar a preservar a natureza e a saúde e bem-estar dos organismos. Apesar dos ataques sofridos, ela corajosamente alertou o mundo e afirmou que “a humanidade é uma parte do ecossistema e está sujeita a receber as influências de suas ações nocivas na natureza.” Um ano antes de sua morte Rachel testemunhou perante o Congresso Americano e pediu novas políticas para a proteção da saúde humana e do meio ambiente. Carson escreveu em seu pedido: “Temos permitido que as mencionadas substâncias químicas sejam usadas sem que haja investigação alguma, ou apenas uma investigação insuficiente, quanto aos seus efeitos sobre o solo, a água, sobre a vida dos animais silvestres e também sobre o próprio homem. As gerações futuras não perdoarão, com toda a probabilidade, a nossa falta de prudente preocupação a respeito da integridade do mundo natural que sustenta a vida toda.” Como resultado o DDT foi banido em vários países nos anos seguintes, a começar pela Hungria, em 1968, Noruega e Suécia, em 1970 e Alemanha e Estados Unidos em 1972. Hoje a Convenção de Estocolmo, que é assinada por 180 países, restringe o composto apenas para casos específicos, como controle a vetores de doenças. Aqui no Brasil o uso só foi proibido no ano de 2009. Rachel Louise Carson contribuiu muito para uma nova consciência sobre a nossa relação com a natureza, de que fazemos parte de um ecossistema e que devemos cuidá-lo e respeitar os demais seres com quem convivemos. Suas ações precursoras da ecologia continuam a nos inspirar a lutar para a proteção da Terra e com certeza continuará e ajudará as gerações futuras.
Confira os livros publicados pela Rachel:
Gostaria de ler mais sobre este grande ícone da ciência? Aqui vão algumas dicas de livros sobre a Rachel Carson para complementar sua leitura:
Rachel Carson: the writer at work (1989);
Always, Rachel (1994)
Witness for Nature (1997);
Lost Woods: The Discovered Writing of Rachel Carson - Escritas descobertas da autora (1999).
Texto: Mariana G. Furquim;
Pesquisa: Diego G. Cavalheri;
Texto Instagram: Aline Freiria dos Reis;
Arte: Aline Freiria dos Reis.
Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, B. L. Rachel Carson (1907-1964): A defesa e o amor pela natureza. XXV Encontro Estadual de História da ANPUH-SP. Disponível em:<https://www.encontro2020.sp.anpuh.org/resources/anais/14/anpuh-sp-erh2020/1600826469_ARQUIVO_007feca5641cba7cf77090df6c7a55d9.pdf>. Acesso em 10 de agosto de 2022.
PAULL, J. The Rachel Carson Letters and the Making of Silent Spring. SagePub Journals. 2013. Disponível em:<https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/2158244013494861>. Acesso em 10 de agosto de 2022.
BONZI, R. S. Meio século de Primavera silenciosa: um livro que mudou o mundo. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 28, p. 207-215, jul./dez. 2013. Editora UFPR207. Disponível em:<https://revistas.ufpr.br/made/article/view/31007/21665>. Acesso em 10 de agosto de 2022.
GONÇALVES, A. et. al. Educação: pensadores ao longo da história. Departamento de Ciências da Natureza. Instituto Politécnico de Bragança. Disponível em:<https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/21571/1/2019%20Poster%20Rachel%20Carson%20FINAL.pdf>. Acesso em 10 de agosto de 2022.
One Way To Open Your Eyes Is To Ask Yourself, What if I Had Never Seen This Before? What if I Knew I Would Never See It Again? The Life And Legacy Of Rachel Carson. Disponível em:<http://www.rachelcarson.org/>. Acesso em 10 de agosto de 2022.
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