
Vocês já ouviram falar em Pitfall trap? E não, não estou falando do joguinho de Atari dos anos 80. Hoje vocês irão conhecer um pouco mais sobre as armadilhas de interceptação e queda, ou Pitfall, um método bastante utilizado em estudos de fauna.
Este método consiste, de maneira simplificada, em recipientes enterrados no solo e geralmente interligados por uma cerca-guia. O animal, ao ser interceptado pela cerca-guia, que pode ser feita de lona plástica, tela mosquiteiro, ou até chapas de aço, tende a seguir a cerca, sendo guiado até o recipiente, caindo e ficando preso neste local. Para animais maiores, como répteis, anfíbios e pequenos mamíferos, geralmente são utilizados recipientes maiores, como baldes e tambores, que, por conta do tamanho, não permitem que o animal alcance a borda.
Quando utilizado para insetos é comum que o método não conte com cerca-guia e os recipientes sejam pequenos, como potes entre 200-500 ml ou garrafas pet. Neste caso, é necessário que sejam utilizadas outras formas de manter o animal capturado no recipiente. É possível, no caso de insetos, colocar alguma substância de fixação, como álcool 70%, por exemplo. Outra forma, bastante efetiva, é fazer o mesmo processo da armadilha de funil, já descrita nessa sessão, que forma uma boca invertida e impossibilita a saída dos animais capturados.
Compreendendo como este método funciona, vamos tentar entender o porquê de ser tão popular e utilizado na maioria dos estudos com fauna. Primeiramente é um método de coleta passivo, ou seja, após a instalação bem feita, passa a atuar 24 horas por dia, até que o profissional decida fechar ou retirar o recipiente do local. Além disso, permite a captura de animais que dificilmente seriam capazes de serem visualizados em uma busca ativa, como pequenos anfíbios e lagartos, ou colêmbolos, que são pequeninos invertebrados. Os Pitfalls também podem ser utilizados em conjunto com outros métodos, como armadilhas de funil colocadas nas cercas-guias entre os recipientes, funcionando na captura de serpentes arborícolas, por exemplo, que facilmente sairiam de um balde caso fossem capturadas, por conta da sua capacidade de escalada.
Contudo, como todos métodos, pontos negativos existem e, neste caso em especial, devem ser levados em consideração com bastante cuidado. Assim como mencionado nas Redes de neblina, as armadilhas de interceptação e queda podem resultar em altas taxas de mortalidade quando usadas de forma incorreta. No caso de vertebrados, por exemplo, quando são capturados e ficam presos no recipiente podem passar por condições adversas que resultem em óbito. Exemplos disso são as intempéries, como chuva, letal para pequenos mamíferos que acabam por morrer de hipotermia, ou altas temperaturas, em locais com alta radiação solar. Outro fator que pode levar a alta taxa de óbitos são animais indesejados, capturados pelo métodos. Formigas, serpentes e alguns mamíferos podem rapidamente predar outros animais que estão confinados. Formas de mitigar este impacto é se atentar ao local que será instalada a linha de armadilhas, evitando o sol direto e locais com muitas formigas. Estas mudanças podem reduzir consideravelmente o número de óbitos durante um estudo. Revisões constantes, principalmente em locais de área aberta e altas temperaturas, também podem diminuir muito essas taxas. Revisar nas primeiras horas do dia, enquanto ainda está fresco, e outra revisão no meio do dia podem evitar que os animais capturados morram de calor. Um método bastante utilizado é colocar pequenos pedaços de isopor, fazendo pequenos “barquinhos” para os animais capturados terem onde ficar caso chuvas fortes aconteçam e o balde fique cheio d’água. Em locais com alta incidência solar, é possível colocar pequenos abrigos que garantam sombra durante as horas mais quentes do dia.
Por fim, outro ponto a ser considerado é o custo deste método, principalmente para captura de vertebrados. Geralmente são utilizados muitos baldes ou galões, e dezenas de metros de cerca-guia, gerando um custo considerável durante o estudo. Felizmente, após a instalação, as armadilhas podem permanecer no local por longos períodos de tempo, até mesmo anos, com algumas manutenções periódicas. No caso das armadilhas para invertebrados o custo é bem inferior. São utilizados recipientes pequenos e pode-se utilizar até mesmo material reciclável, como garrafas pet e potes de sorvete.
Como pudemos ver, os Pitfalls trap são bastante interessantes tanto para animais maiores, como répteis, anfíbios e mamíferos, quanto para invertebrados. É um método que auxiliará a levantar quais espécies ocorrem no local (riqueza) e qual a quantidade de cada uma dessas espécies (abundância). Utilizar este método em conjunto com outros, que possibilitem amostrar outros ambientes, como ambientes aquáticos, pode ser uma boa estratégia para um estudo de fauna completo e consistente. Inclusive, novas formas de utilizar este método para captura de mamíferos arborícolas também tem sido testado e com bons resultados. A imaginação, neste caso, pode ser uma boa ferramenta para potencializar a atuação deste método.
Arte: Natália Lavínia A. de Souza;
Texto: Diego G. Cavalheri;
Pesquisa: Raphael Martins; Keity Souza;
Texto Instagram: Keity Souza; Raphael Martins.
Referências bibliográficas:
Borges Filho, E.L.; Audino, L.D.; Bernardi, L.F.O.; Zampaulo, R.A.; Souza, M.T.M. Comparação da eficiência de três métodos de amostragem de invertebrados em cavidades naturais subterrâneas neotropicais. 2019 Acesso em: 22 de maio de 2022. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/wp-content/uploads/2021/07/35cbe_710-719.pdf>.
Cechin, S. Z.; Martins, M. Eficiência de armadilhas de queda (pitfall traps) em amostragens de anfíbios e répteis no Brasil. 2000. Rev. bras. zool. 17(3): 729–740. Acesso em: 22 de Maio de 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbzool/a/yKLkMSZdJ8tVW39qRgc83yK/?format=pdf&lang=pt>.
Helder, J.; Macedo, I.; Loss, M.C. A New and Simple Method to Capture Small Arboreal Mammals: The Suspended Pitfall. 2019. Rev. Bras. Zoociências. 20(1): 1–14. Acesso em: 22 de maio de 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.34019/2596-3325.2019.v20.24790>.
Koller, W.W.; Castro, L.C.S.; Almeida, R.G. Adaptações úteis em uma armadilha de queda. 2017. Acesso em: 22 de Maio de 2022. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/167384/1/Adaptacoes-uteis-em-uma-armadilha-de-queda.pdf>.
Monsteiro, E.S. et al. Análise da frequência de animais da macrofauna, em áreas de mata de preservação e cultivo de goiaba (Psidium guajava L.) utilizando armadilha de Pitfall. 2021. Acesso em: 22 de maio de 2022. Disponível em: <https://periodicosuneal.emnuvens.com.br/ambientale/article/view/285/230>.
Comments