Descobrir as espécies de mamíferos que vivem em uma região não é, nem de longe, uma tarefa fácil. Muito diferente do que vemos nos programas de Tv, que em poucas horas são avistados inúmeros mamíferos de médio e grande porte, a vida real é muito mais ingrata. Sendo assim, a tarefa de descobrir quais “peludinhos” ocorrem em um determinado local é um trabalho que exige muito esforço, estudo e dedicação. Para este fim, inúmeros métodos que possibilitem registrar essas espécies podem ser utilizados e cada um deles possuem suas vantagens e desvantagens. Um método de baixo custo e ainda bastante utilizado é a cama de areia, e é dele que vamos falar a respeito nessa matéria.
A cama de areia, ou cama de pegadas, consiste em escolher pontos ao longo do local que será amostrado e montar uma área com areia que permita que os animais deixem seus rastros. A dimensão dessa área deve ser pré-definida (por exemplo 100 cm x 100 cm) e pode, ou não, contar com uma isca que atrai a fauna local. Este método é principalmente utilizado para mamíferos, visto que seus registros de pegadas são bem documentados e específicos para cada espécie.
E o que fazer após chegar na cama de areia e encontrar uma pegada? É nesse momento que o método trará informações para seu estudo. A coordenada do registro, ou seja, o local exato em que a espécie passou, será importante para compreender quais locais o animal está usando com sua área de vida. Fotografias com escala, utilizando uma régua, por exemplo, permitem a identificação correta do animal, assim como uma estimativa do seu tamanho. Por fim, a confecção de um contramolde, um molde da pegada, geralmente com uso de gesso, servirá como voucher, isto é, um registro que ficará armazenado em alguma coleção e permita que outros especialistas verifiquem e chequem futuramente a identificação, caso ainda restem dúvidas. Os contramoldes podem ser utilizados em outros propósitos, como ações de educação ambiental, por exemplo, que trará aos visitantes de um local uma boa oportunidade de ter contato com os rastros que os mamíferos da região deixam.
Contudo, a cama de pegadas nem sempre é a melhor opção. Para registrar mamíferos arborícolas, como primatas, por exemplo, esse método dificilmente trará bons resultados. Nesses casos, o pesquisador que quer chegar o mais perto possível de descobrir todas espécies de mamíferos de médio e grande porte da região, deve incluir a cama de areia em parceria com outros métodos que possibilitem registrar os animais que ocupam esses ambientes.
Sendo assim, podemos ver a cama de areia como um método bastante interessante, principalmente por ter um baixo custo, pois o único material utilizado é areia, ou similar, e a isca para atrair os animais. Sendo que, em alguns casos, em que possa utilizar areia do próprio ambiente, nem este insumo seria necessário. É uma técnica que traz bons registros, e possibilita identificar quais espécies ocorrem em uma região e por quais locais estão andando.
Então se algum dia estiver caminhando por alguma trilha e topar com um quadradinho de areia com algumas “comidinhas” no centro, agora você sabe muito bem do que se trata. Pare, aprecie as pegadas, se houver, mas tome cuidado para não apagá-las, esbarrando ou apoiando a mão, se não você irá atrapalhar o registro da pessoa que está fazendo aquela pesquisa.
Arte: Natália Lavínia A. de Souza;
Texto: Diego G. Cavalheri;
Pesquisa: Raphael Martins; Keity Souza;
Texto Instagram: Raphael Martins.
Referências bibliográficas:
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