IJAPINEWS: DIA INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE E OS DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO NO ANTROPOCENO
- institutojapi
- 22 de mai.
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O que é a Biodiversidade? Esse conceito representa a riqueza e variedade das formas de vida que existem no planeta, sendo um dos elementos fundamentais para a manutenção da vida na Terra. Ela abrange diversos níveis da biologia: genes, espécies, ecossistemas e as interações ecológicas. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), a biodiversidade é a variedade de organismos vivos de todas as origens, incluindo os ecossistemas terrestres, marinhos e aquáticos, além dos complexos ecológicos.
Tudo isso sustenta o equilíbrio ecológico, garantindo condições adequadas para a sobrevivência de todas as espécies (UNIFAP, 2015; SEMIL, 2023). A biodiversidade reflete a complexidade, interdependência e adaptabilidade dos seres vivos e sistemas que os envolvem. Infelizmente, atualmente a sua conservação é um dos maiores desafios considerando as pressões antrópicas.
A biodiversidade é dividida em três níveis: diversidade genética, diversidade de espécies ou taxonômica, e diversidade ecológica. A diversidade genética se refere a variações hereditárias entre indivíduos de uma mesma espécie. Já o segundo, abrange a variedade de grupos taxonômicos presentes em uma comunidade. E por fim, a diversidade ecológica considera a multiplicidade de ecossistemas e as interações entre os organismos e seus ambientes (UNIFAP, 2015).

O Brasil é um país que ocupa cerca da metade da América Latina, e no contexto da biodiversidade, possui um papel de destaque, sendo o país com a maior diversidade biológica do mundo. Estima-se que o país abriga cerca de 15% a 20% de todas as espécies descritas, sendo mais de 116 mil espécies animais e 46 mil espécies vegetais, sendo que entre elas estão presentes milhares de espécies endêmicas, que só existem no Brasil. Por causa das diferentes zonas climáticas, ele também engloba vários biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa. Além disso, a sua costa marinha possui cerca de 3,5 milhões km², o que possibilita a existência de uma série de ecossistemas aquáticos, como dunas, manguezais, lagoas, estuários, e outros.
Atualmente estamos na era geológica Antropoceno, sendo marcada pelas atividades humanas na transformação da natureza, causando uma crise na biodiversidade. O uso intensivo dos recursos naturais, a poluição, a destruição de habitats e as mudanças climáticas são algumas das principais causas da perda de biodiversidade em escala global. Um exemplo disso é a defaunação, que se refere ao desaparecimento de populações de animais silvestres, que ocorre muitas vezes de forma silenciosa, mas com fortes consequências. A perda de espécies-chave influencia em diversas atividades essenciais da ecologia, como na dispersão de sementes, na polinização e no controle de pragas, causando um “vazio ecológico”, que afeta o funcionamento dos ecossistemas e a qualidade de vida de populações humanas (Dirzo et al, 2014).
A defaunação não se restringe somente à perda de grandes mamíferos ou aves, mas também de pequenos vertebrados, insetos e até microrganismos. Essa é a consequência mais evidente da crise ecológica atual, agravada por fatores como a caça ilegal, tráfico de animais silvestres e fragmentação dos habitat naturais. Diante disso, o pesquisador Mauro Galetti, em seu livro “Um naturalista no Antropoceno”, reflete sobre a responsabilidade humana ao afirmar: “O Antropoceno não nos coloca de volta no centro do universo, como criação divina, mas nos responsabiliza pelos nossos próprios atos [...] Hoje nós somos os Tyrannosaurus ou os Triceratops vendo uma bola de fogo no céu se aproximar, a diferença é que podemos mudar o curso desse asteroide”.
Pensando nisso, a principal forma de poder evitar que esse processo continue ocorrendo e a situação se agrave, é através da refaunação, ou seja, trazer de volta tudo aquilo que foi tirado do ambiente natural, para poder restaurar todas as espécies que foram perdidas na região. Além disso, podemos também apoiar políticas públicas que fiscalizem e façam a devida punição nesses casos, para parar os responsáveis por trás dessa tragédia.
De acordo com a Lista Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), de 2022, há três anos atrás já haviam 1.249 espécies em risco de extinção, distribuídas entre os grupos taxonômicos existentes no país. Para exemplificar as espécies ameaças em cada divisão da fauna, usemos a lista da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza): na Mastofauna, temos a Onça-pintada (Panthera onca), um felino com grau de ameaça “Vulnerável (VU)”, sendo que sua população está em declínio devido à perda de habitat, caça e conflitos com humanos; Na avifauna, o Mutum-do-nordeste (Pauxi mitu) se encontra “Criticamente em perigo (CR)”, já considerado extinto na natureza e sobrevivendo apenas em cativeiro e em programas de reprodução; Já na Herpetofauna, a Pererca-pintada (Scinax alcatraz) está no grau de ameaça “Em perigo (EN)”, e se encontra altamente vulnerável devido à degradação de habitat e mudanças climáticas.
Por fim, na parte da flora, a árvore da Araucária (Araucaria angustifolia) está “Criticamente em perigo (CR)”, sendo alvo do desmatamento, exploração madeireira e conversão de habitat para o uso agropecuário.

Considerando que a biodiversidade é essencial para a manutenção do nosso planeta, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Dia Internacional da Biodiversidade, comemorado no dia 22 de maio, com o objetivo de promover a conscientização sobre esses desafios. A data delimita a adoção da Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada durante a Rio-92, buscando evidenciar a importância da conservação da vida. A celebração desse dia vai além de um marco simbólico: é um alerta. A conservação da biodiversidade exige políticas públicas eficazes, a participação da sociedade e o investimento em ciência e em educação ambiental.
Portanto, a importância da biodiversidade pode ser vista pelos serviços ecossistêmicos que ela sustenta. Esses serviços são necessários ao planeta e à humanidade, sendo indispensáveis para a manutenção da vida e da qualidade de vida. Eles se dividem em quatro categorias: serviços de provisão (como alimentos, água potável, sementes e compostos medicinais); serviços de regulação, que envolvem a purificação do ar e da água, a regulação climática, a proteção contra desastres naturais; serviços culturais, relacionados ao lazer, turismo ecológico, etc; e os serviços de suporte, como a formação do solo, fotossíntese e a ciclagem de nutrientes.
A floresta amazônica, por exemplo, é um símbolo da biodiversidade mundial e atua como reguladora do ciclo do hidrogênio e do clima, além de armazenar grandes quantidades de carbono. Sua destruição comprometeria diretamente os serviços ecossistêmicos não só do Brasil, mas de todo o planeta, agravando os efeitos das mudanças climáticas e o desaparecimento de espécies. A sua conservação não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica, cultural e ética. Povos tradicionais, comunidades indígenas e ribeirinhas dependem da sua biodiversidade para sua sobrevivência. A perda de espécies e habitats representa também a perda de conhecimentos ancestrais e oportunidades futuras de desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTIAGO, Alexandre de Gusmão. O que é biodiversidade? Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. [s.d.]. Disponível em: https://www2.unifap.br/alexandresantiago/files/2015/02/o-que-e-biodiversidade.pdf. Acesso em: 24 abr. 2025.
BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Atualização da lista oficial das espécies ameaçadas de extinção. [2022]. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/destaques-e-eventos/704-atualizacao-da-lista-oficial-das-especies-ameacadas-de-extincao.html. Acesso em: 24 abr. 2025.
DIRZO, Rodolfo et al. Defaunation in the Anthropocene. Science, v. 345, n. 6195, p. 401–406, 2014. DOI: 10.1126/science.1251817. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/264247848_Defaunation_in_the_Anthropocene. Acesso em: 24 abr. 2025.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística – SEMIL. 22 de maio: Dia Internacional da Biodiversidade. 2023. Disponível em: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/2023/05/22-de-maio-dia-internacional-da-biodiversidade/. Acesso em: 24 abr. 2025.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística – SEMIL. Diversidade Biológica ou Biodiversidade. [s.d.]. Disponível em: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/prateleira-ambiental/diversidade-biologica-ou-biodiversidade/#:~:text=Diversidade%20Biol%C3%B3gica%20ou%20Biodiversidade%20%C3%A9,a%20fauna%20e%20flora%20terrestres. Acesso em: 24 abr. 2025.
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SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura. Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Disponível em: https://semil.sp.gov.br/educacaoambiental/prateleira-ambiental/pagamento-por-servicos-ambientais-psa/. Acesso em: 24 abr. 2025.
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CONSELHO REGIONAL DE BIOLOGIA - 1ª REGIÃO. O Biólogo, nº 57, jan./mar. 2001. Disponível em: https://crbio01.gov.br/arquivos/revista_o_biologo_57.pdf. Acesso em: 24 abr. 2025.
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CETESB. Biodiversidade: Importância, Conceitos, Métodos, Avaliação, Políticas de Conservação. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/36/2014/04/Biodiversidade_ImportanciaConceitosMetodosAvaliacao_PoliticasConserva%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o.pdf. Acesso em: 24 abr.
GALETTI, Mauro. Um naturalista no Antropoceno. 1. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2024. 183 p.
World Animal Protection. Disponível em: https://www.worldanimalprotection.org.br/mais-recente/blogs/defaunacao/.
Pesquisa: Bianca Lima
Texto: Heloísa Antunes
Arte: Roberta Sontos
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