
“ Nem tudo se joga fora, nem tudo que sobra é lixo”
Mundo Bita
Quantas vezes nós não ouvimos ou falamos a frase “joga no lixo” ou “joga fora” para um item que não nos tem mais valor? Frequentemente, não é? Simbora refletir sobre isso?
Para início de conversa, se você procurar no dicionário, vai encontrar a definição de “lixo” como “qualquer material sem valor ou utilidade, ou detrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais etc. Algo que se joga fora”.
Acontece que isso está longe de ser verdade. Muito pouco do que jogamos fora é, de fato, algo inutilizável ou sem valor. Para entender isso precisamos esmiuçar um pouco a composição do que chamamos de lixo: os resíduos e os rejeitos.
De modo geral, o termo resíduo é correto para nomear algo que foi descartado mas pode ter utilidade em outro processo produtivo, como matéria-prima na indústria, por meio da reciclagem, por exemplo.
Rejeitos são “resíduos sólidos que depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada“. Por fim, algo que não pode ser reutilizado, reciclado ou composto. Ou seja, todo rejeito é um resíduo, mas nem todo resíduo é um rejeito (e nem tudo é lixo).
Sendo assim, os rejeitos se assemelham mais ao que comumente chamamos de lixo. E os resíduos, por sua vez, possuem uma infinidade de possibilidades melhores do que os depósitos de lixo.
Já que a produção dos resíduos não pode ser evitada, resta à sociedade desenvolver estratégias, a fim de gerar o mínimo possível de lixo e garantir que os resíduos sólidos tenham uma disposição final adequada. Boa parte desses resíduos podem e devem ser reciclados.
No nosso país, temos a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), uma lei (Lei nº 12.305/10) que trouxe ao Brasil uma série de inovações para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos. Ela traz propostas práticas de hábitos de consumo sustentável, como o estímulo à reciclagem e à reutilização dos resíduos sólidos, além de definir qual a destinação final ambientalmente adequada para resíduos.
A reciclagem é um processo que tem como objetivo reaproveitar materiais descartados como matéria-prima para a confecção de novos produtos - Você sabia que é possível transformar pneus velhos em solas de sapato?
Inclusive, o termo reciclagem difundiu-se na mídia a partir do final da década de 80, quando foi constatado que as fontes de petróleo e de outras matérias-primas não renováveis estavam se esgotando rapidamente, e que havia falta de espaço para a disposição de resíduos e de outros dejetos na natureza. É uma solução que foi encontrada para diminuir os impactos causados pelo excesso de lixo bem como a crescente demanda de matérias-primas para suprir as necessidades de consumo da população.
O processo de reciclagem é composto de várias fases, mas depende de uma etapa fundamental: é preciso que a separação prévia dos materiais seja feita de forma correta. Separar resíduos orgânicos e recicláveis é o básico, mas também é essencial lavar os materiais recicláveis sujos antes de descartar, não jogar embalagens recicláveis contendo restos de alimento dentro, não amassar papéis antes de descartar e embalar vidros quebrados.
É importante ressaltar o papel dos catadores no processo de reciclagem. Seja de forma autônoma ou através das cooperativas, são eles que coletam, separam, transportam, acondicionam e, às vezes, beneficiam os resíduos sólidos - processo de transformação dos materiais coletados, para que posteriormente possam sejam reutilizados em outra cadeia produtiva. Transformando, assim, o que antes era visto como lixo, inútil e pronto para ser descartado, em mercadoria, com valor de uso, venda e troca.
A coleta seletiva é outra etapa fundamental, pois, de nada adianta separar os resíduos recicláveis se estes não chegarem aos centros de reciclagem. A coleta seletiva trata da coleta diferenciada de resíduos que foram previamente separados segundo a sua constituição ou composição. Ou seja, resíduos com características similares são selecionados e disponibilizados para a coleta separadamente. Essa destinação pode ser feita de forma individual, como cidadão, uma empresa ou instituição.
Lembra das lixeiras coloridas? Elas entram aqui: azul para papel e papelão, verde para vidro, amarelo para metais, marrom para produtos orgânicos, vermelho para plástico. Ainda existem outros tipos que não são recicláveis e devem possuir uma destinação adequada, como o lixo hospitalar (branco); resíduos perigosos (laranja); resíduos radioativos (roxo); e cinza para resíduos contaminados que não poderão ser destinados à reciclagem. Não deixe de conferir o nosso conteúdo especial sobre lixo eletrônico!
No entanto, para destinação domiciliar, podemos colocá-los juntos em um saco azul ou transparente, ou mesmo em uma caixa de papelão - Desde que devidamente higienizados, não se esqueça! Consulte aqui para verificar os resíduos que podem ser reciclados e onde pode entregar aqueles que não são.
Se você for de São Paulo, pode pesquisar se o serviço atende a sua rua aqui ou aqui. Caso seja de outra região, pode encontrar essas informações no site da prefeitura do seu município. Mas, se o serviço de coleta domiciliar seletiva não atender seu endereço, procure pelo ponto de entrega voluntário (PEV) mais próximo.
Além disso, existem alguns aplicativos que ajudam nesse processo, como o Cataki, onde você pode encontrar o catador de materiais recicláveis mais próximo de você e agendar uma coleta pelo app.
São inúmeros os benefícios proporcionados com a implementação da coleta seletiva e do processo de reciclagem. Vamos ver alguns?
A redução de resíduos implica na redução de custos com a sua disposição final, sejam em aterros ou incineradores. Além disso, também garante o aumento de vida útil dos aterros.
Diminuição de gastos com remediação de áreas degradadas pelo mal acondicionamento do lixo. Embora sejam proibidos, existem muitos lixões a céu aberto, que podem ser combatidos com a correta destinação dos resíduos.
Educação e conscientização ambiental da população: a educação ambiental é uma peça fundamental para o sucesso de qualquer programa de coleta seletiva. A educação visa ensinar o cidadão sobre o seu papel como gerador de lixo.
Geração de empregos diretos e indiretos com a instalação de novas indústrias recicladoras na região e ampliação de indústrias recicladoras já estabelecidas.
Resgate social de indivíduos através da criação de associações e cooperativas de catadores.
Em resumo, a reciclagem contribui para que esses materiais não sejam depositados em lixões ou aterros, e diminui a poluição de rios, matas, do solo, e do ar. Além disso, reciclar significa que muitos materiais podem ser reaproveitados na indústria, e assim há menor necessidade de extrair recursos naturais. Tudo isso reduz o impacto ambiental da geração de lixo.
Você já parou para pensar na quantidade de resíduos que produzimos todos os dias? Estima-se que no Brasil são produzidos em torno de 240 mil toneladas de resíduos por dia. Para mudar esse cenário primeiro precisamos mudar nossos hábitos. Pensar global e agir local, certo? Você pode começar adotando os 5R’s para o seu dia a dia:
Reduzir: redução do consumo desnecessário, dando preferência aos produtos que tenham maior durabilidade, reduzindo por consequência a produção de resíduos e a retirada dos recursos da natureza;
Reutilizar: recuperar ao máximo o que seria jogado fora, ampliando assim a vida útil dos produtos. Utilizar de formas diferentes o mesmo material. Assim, economizamos a extração de várias matérias-primas.
Reciclar: aproveitando o material para a fabricação do mesmo ou outro tipo de produto. Destacamos que reciclar é diferente de reutilizar, pois na reutilização o material continua sendo o mesmo, embora possa ser usado para fins diferentes e na reciclagem o material pode ser transformado em outro.
Repensar: repensar os hábitos de consumo. Quando for comprar algo novo, analise se é realmente necessário a compra. Existe alternativa mais sustentável? Que tal comprar de segunda mão? Assim, poupam-se recursos ambientais, dinheiro e combatemos a ideia dos bens de consumo descartáveis. Falando nisso, que tal repensar o uso de plásticos descartáveis?
Recusar: recusar a compra de produtos (marcas, empresas) que causam danos ao meio ambiente e à saúde. Muitas empresas fazem uso do greenwashing para ganhar consumidores. Fiquem atentos!

Ilustração de Guilherme Bandeira
Texto: Amanda Oliveira;
Pesquisa: Amanda Oliveira; Daffiny Kapitanovas;
Texto Instagram: Aline Freiria dos Reis.
Arte: Aline Freiria dos Reis.
Referências
BRASIL Ministério do Meio Ambiente. Lei nº12.305/10. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF, 2010.
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