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Caatinga

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“Caro leitor, atenção!

pois tenho muito a falar.

Sobre o bioma caatinga

e sua beleza singular […]


É no agreste e no sertão de vidas sofridas e de secas severas que encontra-se o bioma exclusivamente brasileiro. Carregado de características únicas, tanto naturais, quanto culturais, é a região semiárida com a maior diversidade biológica do planeta.


(Fonte da imagem: Instituto Sociedade População e Natureza)

A Caatinga ocupa 11% do território brasileiro, em cerca de 900 mil km² e abrange predominantemente a região nordeste do país nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte norte de Minas Gerais. O seu dia é comemorado no dia 28 de abril, desde o ano de 2003. Esta data representa o nascimento do ecólogo João Vasconcelos Sobrinho, o pioneiro dos estudos do bioma.


É considerada uma das regiões naturais mais distintas da América do Sul, com uma combinação única de características físicas e biológicas. Por sua grande diversidade na topografia, solos, clima e principalmente vegetação, pode ser dividida em dez ecorregiões e cerca de 135 unidades geoambientais.


Com a média de temperaturas anuais elevadas, geralmente superiores a 25ºC, sendo que em alguns lugares a média de temperatura é superior a 35ºC.

O sistema de chuva é complexo, com chuvas escassas e longos períodos de seca. Durante poucos meses as chuvas são irregulares, sendo em alguns anos mais chuvosos, alternados com períodos de secas que podem durar anos. O período chuvoso dura de 3 a 5 meses, geralmente de janeiro a maio. As serras e chapadas mais altas da Caatinga recebem a maior parte das chuvas que escoam, dando origem aos rios e lagos da região, muitas vezes temporários. Já as áreas de planícies estão sujeitas aos longos e severos períodos mais secos.


O bioma apresenta diversos aspectos únicos, principalmente em relação à adaptação climática da flora e fauna, já que é muito afetada por secas extremas e períodos de estiagem, principal característica do clima semiárido.

Por este motivo, a vegetação precisou desenvolver mecanismos de sobrevivência em razão da pouca disponibilidade de água. Caracterizada pela forte presença de arbustos com galhos reduzidos e com raízes profundas, além da grande presença de cactos e bromélias, em regiões onde as plantas precisam evitar a perda de água por evaporação. E dependendo das condições da área onde se encontram, as plantas apresentam diferentes características.


A sua vegetação possui 4.900 espécies de angiospermas, 1.003 espécies de fungos, 112 briófitas e 40 samambaias e licófitas. As cactáceas representam um dos principais grupos de angiospermas predominantes da fisionomia da região nordeste, com 97 espécies conhecidas no domínio caatinga, assim constituindo uma grande relevância econômica, pelo fato de ser uma importante planta forrageira, na qual seus frutos são consumidos tanto na alimentação de determinados animais como também na alimentação humana, além do grande uso medicinal.


O bioma possui uma vegetação única, caracterizada como homogênea, ou seja, ocorrem poucas variedades de espécies no mesmo local e são bem espaçadas entre si. Porém isso não quer dizer que existam poucas espécies de plantas no bioma, mas sim que a sua composição varia de acordo com características locais como tipo de solo, altitude e volume anual de chuvas.


Sendo assim, a vegetação é caracterizada como xerófila (que são adaptadas à condições de secura) e espinhosa, muitas vezes grosseira e áspera, com alta variedade de espécies, sendo muitas exclusivas desse bioma, assim como algumas plantas da Caatinga são caducifólias (que, em determinado período do ano, perde suas folhas). E é daí que vem o seu nome: originário do tupi-guarani “Caa tinga” significa “mata branca”, devido a cor dos troncos da vegetação que perdem sua folhagem nos períodos de seca, para diminuir a transpiração e armazenar água.


Quando as condições do solo são mais favoráveis, a Caatinga se assemelha à floresta, onde são encontradas árvores como o Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Aroeira (Schinus terebinthifolia) e Baraúna (Schinopsis brasiliensis). Já nas áreas mais secas, de solos rasos e pedregosos, a vegetação se reduz a arbustos e plantas baixas e tortuosas, deixando o solo mais exposto. Nestas áreas ocorrem plantas cactáceas como, o Mandacaru (Cereus jamacaru), o Facheiro (Pilosocereus pachycladus) e o Xiquexique (Pilosocereus gounell), que servem de alimento para os animais na época de seca, e as bromeliáceas como a Macambira (Bromelia laciniosa). Algumas palmeiras e outras espécies de árvores como o Juazeiro possuem raízes bem profundas para absorver água do solo e não perdem as folhas durante as secas.


Outro aspecto importante é o sistema complexo de raízes, que formam um emaranhado tão grande, (e às vezes até maior) quanto os galhos e a copa da planta. Há também o desenvolvimento de raízes tuberosas, chamadas de xilopódios, que armazenam água e nutrientes, possibilitando que as plantas sobrevivam ao período seco. Algumas espécies possuem um caule suculento, também capazes de armazenar água e nutrientes, como é o caso do Mandacaru e outros cactos. Além disso, algumas plantas desenvolveram uma adaptação ecológica, onde seus estômatos (estrutura que basicamente atua na troca gasosa das plantas) se fecham durante o dia e abrem durante a noite, para assim, absorver o dióxido de carbono, evitando a perda de água por transpiração, portanto realizando suas atividades luminosas durante o dia. Essas plantas são denominadas de plantas “CAM”, uma estratégia usada no clima árido para evitar o estresse hídrico.


(Imagens de: Diego G. Cavalheri)


Embora a diversidade da fauna em ambientes áridos e semiáridos seja menor que em ambientes de clima tropical, a bela diversidade faunística da Caatinga abriga várias espécies de mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes, entre muitos outros animais, também marcada pelas adaptações ao clima, como por exemplo as recorrentes migrações nos períodos de estiagem.

Muitas espécies de animais são exclusivas desse bioma, que possui cerca de 327 espécies endêmicas, dos quais são: 13 espécies de mamíferos, como o macaco Guigó-da-Caatinga (Callicebus barbarabrownae); 23 de répteis, como o lagarto Tropidurus amathites a serpente Bothrops erythromelas, também endêmicos; 20 espécies de anfíbios, como a cecília (Chthonerpeton arii), 20 de peixes, como o Dourado (Salmius franciscanus), encontrado na bacia do rio São Francisco e 15 de aves, como por exemplo o Soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), exclusivo do bioma. A Caatinga abrange um grande número de espécies da fauna brasileira, com 178 espécies de mamíferos; 177 de répteis; 591 de aves; 79 de anfíbios; 241 de peixes e 221 de abelhas.


Dentre as espécies que habitam o bioma, as principais que estão ameaçadas de extinção são: a Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii); o Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Tatu-canastra (Priodontes maximus), Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) , Águia-cinzenta (Buteogallus coronatus), e o Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus).


(Imagens de: Diego G. Cavalheri)


Apesar de sua grande importância ecológica, calcula-se que cerca de 40 mil km² da Caatinga já foram transformados em um ambiente quase desértico. Além da disponibilidade hídrica ser o principal recurso limitante no ambiente semiárido, os problemas ambientais se agravam pelas características climáticas associadas à ação humana e tornam ainda mais frágil o equilíbrio ecológico, proporcionando implicações negativas para os recursos ambientais e consequentemente para a qualidade de vida dos habitantes.


A agricultura, a caça, desmatamento, desertificação, extrativismo, mineração, pecuária e a construção de barragens e usinas elétricas, estão entre as principais atividades que causam danos à Caatinga:

O desmatamento e a retirada da vegetação natural, executados principalmente para dar lugar à agricultura, a pecuária e ao crescimento das cidades, levam à perda da biodiversidade, já que em sua maioria são utilizadas práticas inadequadas de cultivo em uma agricultura intensiva, que deixa o solo desprotegido e sujeito à erosão, junto o uso inadequado da irrigação. Tudo isso, somado ao uso de agrotóxicos, têm elevado a salinização dos solos e a contaminação destes e das fontes de água.


A forma ideal do uso deste bioma único para fins econômicos é por meio do extrativismo sustentável, ou o manejo sustentável, seja pela extração de frutos ou lenha, seja como um ambiente para criação de animais sob uma restrita criação de cabeças por área. Estas práticas propõem à exploração ecológica uma alternativa sustentável, para que a Caatinga permaneça viva e não seja extinta.


Desde a Rio 92 (primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), o governo brasileiro assumiu o compromisso internacional de conservar a biodiversidade de todos seus biomas, inclusive a Caatinga, que tem cerca de 50% de sua cobertura vegetal original.


E para ajudar a atingir o cumprimento dessas metas, desde 1998, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) vem organizando oficinas participativas para definir áreas prioritárias para ações de conservação e gestão da biodiversidade.


No ano de em 2004, o primeiro plano estabelecido pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente), reconheceu 900 áreas prioritárias para conservação da biodiversidade brasileira e, 10 anos mais tarde, começou a definir essas áreas por bioma.


Para a Caatinga, foram selecionados 691 alvos de conservação no total, compreendendo 36,7% do território do bioma, onde em sua grande maioria, 350 espécies de plantas ameaçadas, incluídas no Livro vermelho da flora brasileira. Além das plantas, o maior grupo de animais alvos de conservação foram os peixes, com 126 espécies ameaçadas de extinção, incluindo peixes altamente endêmicos.


Com várias espécies consideradas criticamente ameaçadas de extinção, em 3º lugar está o grupo das aves, com 65 alvos. Várias espécies de primatas também são alvos de conservação de mamíferos, sendo que 31 espécies estão entre as principais preocupações. Entre os anfíbios foram consideradas 22 espécies, no qual 10 eram altamente endêmicas. Entre os 30 alvos de conservação de répteis, 7 espécies são altamente endêmicas, segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais).


Um alvo importante são os remanescentes de caatinga arbórea: 26 classes topográficas foram incluídas, como por exemplo, inselbergs, dunas, planícies costeiras. Além disso, alguns ecossistemas como os manguezais e formações cavernícolas também foram incluídas como alvos de conservação.


A partir daí, alguns projetos de recuperação e conservação da Caatinga vêm sendo criados para amenizar os impactos ambientais e socioeconômicos do bioma, como o Projeto “Oportunidades para a Criação de Unidades de Conservação na Caatinga, com ênfase no Rio Grande do Norte”, que é uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Wildlife Conservation Society (WCS Brasil), visando ampliar o grau de conservação do bioma através da criação de mais Unidades de Conservação (UC’s), já que atualmente a Caatinga ainda conta com apenas 1% de participação em UC’s de Proteção Integral e 6% em UC’s de Uso Sustentável em que o Brasil representa. Além disso, alguns projetos de que enfocam a educação ambiental, pesquisa e o fomento à políticas públicas como o projeto “Lagos do São Francisco” e o “Projeto No Clima da Caatinga” têm gerado ótimos resultados, fomentando a adaptação das comunidades rurais à semiaridez, capacitação de professores e seminários de políticas públicas, já tendo promovido a preservação de mais de 6.440 hectares do bioma, além de evitar a emissão de cerca de 335.000 toneladas de carbono, atendendendo 1.553 pessoas, que receberam fornos solares, fogões ecoeficientes, sistema bioágua e cisterna de placas, oferecidos pela Associação Caatinga.


Infelizmente, como questiona Luiz Gonzaga em sua música icônica “Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João. Eu perguntei a Deus do céu, ai, por quê tamanha judiação? [...] Por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”, muitos catingueiros aprenderam a conviver com a falta d’água e com a miséria. Muitos já desistiram, buscando oportunidades em outros estados brasileiros, inclusive em movimentos massivos de êxodo rural. Além dos constantes impactos ambientais que essa natureza singular sofre desde a sua ocupação.


Seria muito triste ver o único bioma que é exclusivamente brasileiro ser extinto, não é? Portanto, se algo não for feito para minimizar essas ameaças, será muito mais difícil conviver com o Semiárido da Caatinga cada vez mais castigada, sofrida e abandonada.


[…]

Aqui encerro meus versos

do escrito popular

agradeço a cada um

que parou pra me escutar

Entendendo que caatinga

Tem risco de ser Extinta

Então vamos preservar.”


(Meu Coração de Cordel, por Claudinha Emilly)


Arte: Aline Freiria dos Reis;

Texto: Mariana G. Furquim;

Pesquisa: Amanda Oliveira; Daffiny Kapitanovas;

Texto Instagram: Daffiny Kapitanovas.



Referências Bibliográficas


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Referência das Imagens:


Mapa da Caatinga: Ameaças à Caatinga. ISPN - Instituto Sociedade, População e Natureza. Disponível em:<https://ispn.org.br/biomas/caatinga/ameacas-a-caatinga/>. Acesso em: 14 de abril de 2022.




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