
A Serra do Japi se caracteriza por ser uma das últimas grandes áreas de florestas contínuas de São Paulo, sendo a maior dentre os 72 fragmentos de Mata Atlântica do estado. Ocupando uma área total de 354 Km², a sua extensão alcança as cidades de Cajamar, Pirapora do Bom Jesus, Jundiaí e Cabreúva. Contendo uma elevada riqueza em biodiversidade e demasiados recursos hídricos, esse “colosso” natural abriga ainda hoje diversas espécies de fauna e flora que já a habitavam a centenas de anos, ou que buscam se abrigar do contínuo desenvolvimento das metrópoles e municípios que a circundam.

foto: Vitor Viana dos Santos
Por que estamos falando dela? Agora no dia 08 de Março a Serra do Japi completa os seus 40 anos de tombamento, tendo tido uma grande história ao longo dos anos antes e após ele.
Antigamente, no início do século XVII, a serra era habitada exclusivamente por povos indígenas de origem Tupi-guarani, que se dedicavam a culturas de milho e mandioca, realizadas através do método de coivara, o qual consiste na queima de um pequeno trecho da mata para posterior plantio. Devido a sua riqueza hídrica, foi batizada por eles de Y-api, que significa em língua indígena “nascente de rios”. Com o advento dos colonizadores portugueses, a Serra do Japi começou a ser explorada mais intensamente, tendo um crescimento exponencial com as atividades agrícolas relacionadas à cana-de-açúcar para a fabricação de aguardente (bebida alcoólica), utilizadas no abastecimento local e para os tropeiros.
A partir da segunda metade do século XVII, ocorreu a descoberta de jazidas minerais no território da serra, o que promoveu uma intensa e rápida exploração mineradora. Com o esgotamento das jazidas, os cultivos de lavouras canaviais retornaram, sendo substituídas por café no século XIX e após isso pela uva, com a chegada de imigrantes italianos.
Durante o século XX, as descobertas científicas e o interesse pela biodiversidade da serra, a tornaram convidativa para pesquisadores e naturalistas. Dentre eles podemos citar Azis Ab’ Sáber, geógrafo brasileiro que nos trouxe diversas noções da geomorfologia da região, denominando ela junto de demais naturalistas europeus, como “castelo de águas” em 1983. Nesse mesmo ano, no dia 08 de março, por meio do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), a serra foi tombada como patrimônio natural da humanidade.

foto: Vitor Viana dos Santos
Peraí, antes de continuar, você sabe o que significa o termo “tombamento”?
O tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público, com o intuito de preservar para a população bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e até afetivo. Uma inovação gerada por meio do tombamento da Serra do Japi, foi a de realizar uma série de orientações e regulamentos para que as propriedades que ali já existissem pudessem continuar com suas atividades, desde que não ocorressem mais degradações ambientais e nenhuma ampliação de suas terras sem a avaliação e consentimento do conselho. Estas medidas foram tão exemplares que se tornaram modelo para tombamentos posteriores, uma vez que a maior parte de seus antecessores realizavam o despejo e congelamento de todas as atividades desenvolvidas no local, sem deixar escolha para seus proprietários.
Apesar da exemplaridade do tombamento, diversos conflitos surgiram nos anos posteriores devido ao descontentamento dos proprietários e de pessoas que buscavam o uso econômico da área. Ocorreram diversos eventos: queimadas, retirada de terras e pedreiras, desmatamento e até idéias de projetos turísticos de alto padrão. Apesar de tudo isso, a CONDEPHAAT se manteve firme, não voltando atrás em sua decisão. Ainda bem, né?
Nesta semana, completamos 40 anos desde tal medida e apesar de todas as pressões que o ser humano colocou na serra, ela ainda resiste! Possuindo uma história riquíssima e uma importância extrema para todos nós, ela fornece e forneceu abrigo e alimento tanto para os animais e plantas que nela habitam, quanto para as sociedades que ali se desenvolveram e floresceram. Comemoramos o quadragésimo aniversário do tombamento da Serra do Japi e desejamos que ela permaneça por mais vários anos!
Para comemorar essa data nós da equipe do IJAPI juntos da prefeitura de Cabreúva, realizamos um evento em comemoração aos 40 anos de tombamento da Serra do Japi e ao dia da mulher, tendo uma caminhada para início do dia, seguida de um café aberto ao público e a palestras sobre o tema. Nossa equipe realizou a confecção de lembrancinhas para os participantes com mudas da planta Dinheiro-em-penca, planta que possui grande resistência e simboliza prosperidade e abundância, em alusão a resistência da Serra do Japi e o nosso desejo de sua preservação. Além disso também foram entregues brindes e cartilhas da Lei Maria da Penha fornecidas pela prefeitura. O evento foi publicado e compartilhado por meio das redes sociais com a tag #nóspelaserradojapi e contou com a participação de nosso diretor: Vitor Viana.
Pesquisa elaborada por: Brandon Torres e Gabriel de Paula da Silva
Escrito por: Alex Eduardo da Silva Rocha
Texto do insta: Amanda A. Oliveira
Referências
Paes, M. T. D., & Eichenberger, V. (2021). O tombamento da Serra do Japi (SP): a patrimonialização da natureza em áreas críticas do estado de São Paulo. Revista Do Departamento De Geografia, 41(1), e182798. https://doi.org/10.11606/eISSN.2236-2878.rdg.2021.182798
MORELLATO, L. Patricia C. HISTÓRIA NATURAL DA SERRA DO JAPI - Ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil. UNICAMP, FAPESP. Campinas. 1992.
A Serra do Japi. Fundação Serra do Japi. Disponível em: https://serradojapi.jundiai.sp.gov.br/institucional/. Acesso em: 23 de Fevereiro de 2023.
CONDEPHAAT, 2023. Disponível em: <http://condephaat.sp.gov.br/o-condephaat -e-a-upph/>. Acesso em 07 de março de 2023.
Instituto Japi, 2023. Disponível em: <https://www.institutojapi.org/>. Acesso em: 07 de março de 2023.
AB’ SABER, Azziz: A Serra do Japi, sua origem geomorfológica e a teoria dos refúgios. In: MORELLATO, Patricia. História natural da Serra do Japi. Editora da Unicamp, 1992. p13-23.
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