Uma das maiores descobertas da humanidade foi, inquestionavelmente, a radioatividade, que vem então contribuindo para a sociedade desde o século XX até os dias atuais. Essa descoberta está presente em diversos setores, como na medicina, colaborando em inúmeros tratamentos e possibilidades de diagnósticos, na produção agrícola, na fabricação de armas e até mesmo na produção de energia elétrica em alguns países.
Algum tempo após seu descobrimento, e com o avanço da tecnologia nuclear, ocorreu o aumento da radiação, que por definição trata-se da propagação de energia pelo espaço de um ponto a outro. Esta, por sua vez, vem sendo liberada em excesso no meio ambiente, seja por procedimentos industriais, ações humanas ou ainda, devido a vazamentos. Como produto do conjunto destas ações temos o que conhecemos hoje como poluição nuclear ou poluição radioativa, que é considerada o tipo mais perigoso dentre todas as poluições, nos afetando de maneira irremediável.
Esse tipo de poluição teve início a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com o surgimento da denominada “Era Nuclear”. Como marco das primeiras fontes de poluição, podemos apontar as explosões nucleares, como a de Hiroshima e Nagasaki, onde diversas substâncias foram lançadas no meio ambiente daquela região.
Quando em contato com o meio ambiente, ainda não se conhece uma maneira efetiva de descontaminação do mesmo, podendo ali permanecer por até milhares de anos. Contaminação esta, que pode ocorrer de inúmeras maneiras, seja pela materialização dos agentes físicos radioativos em contato com a erosão do solo, ou pela água que é devolvida ao ambiente após sua utilização na refrigeração dos reatores das usinas nucleares, por exemplo.
Um dos casos mais conhecidos pela grande massa popular, e que corrobora de forma significativa com essa questão da falta de conhecimento na tratativa dessa adversidade ambiental, é o da cidade ucraniana de Chernobyl, onde mesmo após mais de 25 anos do acidente nuclear que ali ocorreu, segue sendo uma “Cidade Fantasma”.
A contaminação por radiação, que pode ser ionizante ou não ionizante, ocorre de duas formas diferentes. De forma interna, pela ingestão de um alimento contaminado, um peixe por exemplo. Ou ainda, de forma externa, sendo que neste caso ocorre a partir do contato com a radiação ambiental e poluição nuclear, e esta por sua vez em demasia no meio ambiente, tem por efeito a contaminação da fauna e da flora daquele local e de suas proximidades, causando um devastador desequilíbrio ecossistêmico.
Agora que compreendemos o que pode ocorrer no meio ambiente, se formos expostos ou contaminados, o que pode acontecer conosco?
Bem, primeiramente é importante entender a diferença entre irradiação, que implica na exposição à radiação, e de contaminação, onde neste caso sim se caracteriza a presença do material radioativo em nosso organismo.
Uma vez contaminado, o ser humano pode apresentar alguns sintomas, denominados efeitos da radiação. Estes podem ser de curto prazo ou agudos, como náuseas e vômitos, passando por perda de peso e queda de cabelo, podendo até levar à morte. Ou podem ser efeitos a longo prazo ou tardios, causando deformidades crônicas, mutações celulares, diversos tipos de cancro, além de acarretar no aumento da incidência de alguns tipos de câncer.
Então podemos considerar a radioatividade, bem como a tecnologia nuclear como coisas horríveis, certo? ERRADO!
É imprescindível que seja realizada a distinção da poluição nuclear em relação a aplicação da tecnologia em si, uma vez que a tecnologia nuclear agrega consideráveis benefícios para a humanidade, com contribuições expressivas nas áreas da indústria, seja na fabricação de armas ou de energia nuclear, na agricultura colaborando com a eliminação de insetos, no meio ambiente e, principalmente, na área da saúde, por meio de exames radiográficos, radioterapia e esterilização.
O que precisa de fato acontecer, são ações com foco na mitigação da poluição nuclear, com enfoque na sua cadeia de produção. Isto pode ocorrer desde o correto e qualificado manuseio da matéria prima, até na atenuação dos testes nucleares com imposição de limites, bem como no monitoramento do descarte dos resíduos gerados.
Nesta última ação, já existe uma norma vigente que preconiza que os rejeitos radioativos sejam segregados fisicamente de qualquer outro resíduo, evitando contaminá-los e visando a diminuição no volume do rejeito radioativo. Trata-se da norma CNEN NN 8.01/2014, que ainda dispõe sobre o acondicionamento do rejeito, que deve ser depositado em local blindado e devidamente identificado com o símbolo internacional da presença de radiação.
Já em relação a políticas públicas com foco na prevenção, controle e segurança das tecnologias nucleares, vale a pena destacar um órgão internacional vinculado a ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que desenvolve e estabelece normas voltadas a proteção e segurança da saúde, bem como na redução do perigo da energia nuclear na vida humana e no meio ambiente. Em suma, é importante compreendermos os benefícios que a tecnologia nuclear, advinda da radioatividade, tem em nossos dias. Mas se faz necessário lembrar que o processo de contaminação do meio ambiente acontece em cadeia, ou seja, o solo uma vez contaminado, permanece assim, e mesmo não tornando-se infértil, tudo que dele nasce carrega consigo a radioatividade, interferindo negativamente em todo tipo de vida das regiões afetadas.
Por fim, as governanças e o poder público mundial precisam ser pressionados e conceder a devida atenção ao destino do lixo nuclear gerado, pois na comparação entre a utilização desta tecnologia e a exposição ao risco que somos sujeitados, chegamos a uma conta que realmente não fecha, e nela a população e o meio ambiente estão quase sempre no saldo negativo!
Arte: Aline Freiria dos Reis;
Texto: Raphael Martins;
Pesquisa: Amanda Oliveira; Daffiny Kapitanovas;
Texto Instagram: Amanda Oliveira.
Referências Bibliográficas
COMO EVITAR AS CONSEQUÊNCIAS DA POLUIÇÃO RADIOATIVA, 2017. Disponivel em: <https://fundacaoverde.org.br/pages/cidadesustentavel/2017/11/24/como-evitar-as-consequencias-da-poluicao-radioativa/> Acesso em: 28/04/2022
FELISMINA MIGUEL, F. L. EFEITOS AMBIENTAIS RESULTANTES DO USO DAS TECNOLOGIAS
NUCLEARES 2020. Disponível em: <https://revistas.ipls.ao/index.php/kulongesa-tes/article/view/87>. Acesso em: 03/05/2022
FUNDAMENTOS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE 2022 Disponivel em: <https://butantan.gov.br/assets/arquivos/Index/fundamentos.pdf> Acesso em: 04/05/2022
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