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Metodologia: Câmera trap.



Caso já tenha experienciado andar pelas matas do Brasil procurando mamíferos de médio e grande porte, como cervos, antas, onças e cachorros-do-mato, vai perceber que avistar estes animais não é, nem de longe, uma tarefa fácil. Aos que já tentaram andar na mata sem fazer barulho, despercebidos, sabem que essa prática é quase impossível. Cada pisada é um galhinho que quebra, uma folha seca amassada, ou um tropicão em uma cipó que engancha no pé.

A maioria desses peludos que buscamos são ariscos e preferem manter distância de qualquer um que tenha potencial de lhe fazer mal, e isso inclui nossa espécie. E se lhe disser que existe um “vigia” que não faz barulho, trabalha 24 horas por dia, em sete dias por semana e registra todos os peludos que passarem por ele? Parece loucura, né? Mas existe, e é a Câmera trap.

Afinal, o que são essas câmeras trap? São câmeras fotográficas que possuem sensor de movimento e geralmente ficam fixadas em árvores. Assim que algo ativa seu sensor inicia uma gravação de vídeo ou tirar uma fotografia, ficando a critério do pesquisador, quando configurar o equipamento, qual será a forma do registro. As câmeras podem ser associadas a iscas, para atrair a fauna, ou não. São frequentemente colocadas em trilheiros de animais ou estradas, registrando as espécies que passarem por ali, mas também podem ser utilizadas em pontos específicos, como ninhos e tocas. Lembrando que, como este equipamento é ativado por sensor de movimento, é importante escolher e preparar bem o local antes de instalar a câmera, deixando a área limpa de galhos e folhas que balançam com o vento. Caso contrário, o sensor será ativado com cada brisa, resultando em algumas centenas, ou até milhares, de fotos ou vídeos do movimento da folha.

Inicialmente, em 1980, foi usada por caçadores norte-americanos, que buscavam compreender a distribuição de suas espécies alvo para caça. Já na década de 1990 pesquisadores viram nesse método uma grande oportunidade de colher dados sobre os animais que estudavam, no caso grandes felinos e pequenos carnívoros. De início o equipamento era bastante rudimentar, com câmeras que utilizavam filmes e possuíam um número bastante limitado de registros. Neste período era necessário que o pesquisador visitasse a câmera com frequência, para verificar se era necessário que o rolo de filmes fosse trocado. Atualmente as câmeras comercializadas por marcas dedicadas, proporcionam equipamentos de alta tecnologia, com visão noturna, possibilidade de gravação de vídeos e fotos em grandes quantidades e baterias que duram por longos períodos. É comum pesquisadores deixarem as câmeras por semanas, registrando todas espécies que passarem pelo local.

Compreendido como essas câmeras funcionam, como esses resultados poderiam beneficiar os estudos e trabalhos feitos com fauna? A primeira, e mais comum, é o registro da espécie, confirmando a presença do animal no local de estudo. Assim como a cama de areia, este método permite registrar quais espécies ocorrem em determinado local. É um método não invasivo, pois não existe captura e a interferência com o animal é baixíssima, sendo muito utilizado em inventários de fauna. Em alguns casos, até a individualização é possível, através de marcas naturais, como no caso de onças pintadas, que possuem rosetas que diferenciam um indivíduo do outro, assim como nossas impressões digitais.

Outra linha de trabalho que as câmeras proporcionam é a comportamental. A tecnologia que permitiu as Câmeras trap gravarem vídeos também abriu essa oportunidade de registrar comportamentos antes desconhecidos. Por poderem ficar por longos períodos e não influenciarem no comportamento dos animais, é possível, quando se conhece bem o grupo de estudo, colocar a câmera em lugares estratégicos, próximo a tocas de alguns animais, como ariranhas, o que possibilita o registro das interações complexas entre os indivíduos do grupo desta espécie. Outro exemplo é utilizar a câmera para gravar comportamentos de frugivoria em aves, colocando o equipamento de modo a registrar quais e como as aves comeriam algum fruto em específico.

Contudo, como qualquer método, a Câmera trap também possui seus contras. O primeiro deles é o custo, por se tratar de um equipamento caro e que, na maioria dos estudos, uma grande quantidade é necessária. Outro problema, que está diretamente ligado ao primeiro, é a perda destes equipamentos. É um evento bastante comum que pesquisadores durante seus estudos, tenham equipamentos roubados, por caçadores ou curiosos, ou danificados, por conta de um selamento mal feito, por exemplo, permitindo a entrada de água e consequentemente a inutilização da câmera. Outro ponto negativo é que, por geralmente serem utilizadas voltadas para o chão, em associação com iscas, dificilmente registrarão espécies arborícolas, como preguiças e alguns primatas.

Por fim, as Câmeras trap são excelentes e muito versáteis, permitem belos registros e podem trazer muitos dados importantes para os estudos e trabalhos com fauna, além de causarem baixo impacto e estresse para os animais estudados.


Arte: Natália Lavínia A. de Souza;

Texto: Diego G. Cavalheri;

Pesquisa: Raphael Martins; Keity Souza;

Texto Instagram: Keity Souza; Raphael Martins.



Referências bibliográficas:


Amorin, A. J. N.; Paiva, E. M. L. L.; Aoki, C. Uso de frutos artificiais associados à cameras trap no estudo de frugivoria 2022. Conjecturas 21(1): 149155. DOI: doi.org/10.53660/CONJ-464-533


Assis, W. O. Uso da armadilhagem fotográfica em estudos sobre a mastofauna terrestre do Pantanal. 2021. Acesso em: 25 de abril de 2022. Disponível em: <https://site.ucdb.br/public/md-dissertacoes/1037630-william.pdf>.


Oliveira, A. P. S. Uma imagem vale mais que mil palavras: o uso de armadilhas fotográficas nos estudos com aves florestais da mata atlântica do sul de Santa Catarina. 2020. Acesso em: 25 de abril de 2022. Disponível em: <http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/8799/1/Andra%20Perla%20Soares%20de%20Oliveira.pdf>.


Pais, M. Câmera trap flagra a fauna da PNSB. 2014. ICMBio. Acesso em: 24 de abril de 2022. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/destaques/128-primeiros-registros-camera-trap.html>.


Silva, M. A. G. Armadilhas fotográficas e predação de ninhos artificiais no cerrado. 2020. Acesso em: 25 de abril de 2022. Disponível em:<https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/1381/3/Dissertacao_Marco-Antonio.pdf>.

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