
Que atualmente vivemos na era da tecnologia, não é novidade para ninguém, não é mesmo?
Isso significa que muitas tecnologias surgem a cada dia, possibilitando produtos mais ágeis, com mais funções, recursos e possibilidades. Por outro lado, muitas coisas se tornam obsoletas, ou seja, perdem o seu valor ou a sua função. Quem se lembra do disquete, computadores de tubo, fitas de VHS, máquinas de fax?
O grande problema é que, culturalmente, tendemos a “jogar fora” tudo aquilo que não queremos ou que não nos tem valor, mesmo que ainda seja possível dar outros destinos melhores. O agravante dessa situação é que a maioria das pessoas simplesmente desconhece a maneira correta de como descartar o resíduo eletrônico e acabam descartando de maneira inadequada, junto ao lixo comum.
A palavra lixo é derivada do termo latim lix, significando “cinza”. No dicionário, ela é definida como sujeira, imundice, coisa inútil, velha, sem valor. Na linguagem técnica, lixo é equivalente aos resíduos sólidos considerados como inúteis, indesejáveis ou mesmo descartáveis. Já o lixo eletrônico pode ser definido como todo e qualquer tipo de produto elétrico ou eletrônico que o proprietário não tem mais a intenção de reutilizá-lo. De uma maneira geral, ele é qualquer tipo de material que contenha circuitos ou componentes elétricos em sua construção e/ou que utilize pilhas ou baterias para funcionar.
Mas será que tudo que jogamos no lixo realmente é lixo? O lixo eletrônico (também chamado de resíduo eletrônico, REEE ou e-lixo) é um dos grandes desafios da gestão de resíduos em todo o planeta, já que o número de dispositivos desse tipo cresce cerca de 4% a cada ano - sendo considerado como o resíduo que mais cresce no mundo atualmente! Como resultado, a cada ano mais de 53 milhões de toneladas de equipamentos eletroeletrônicos e pilhas são descartadas incorretamente em todo o mundo. Para termos uma ideia, a baleia-azul, que é o animal mais pesado do mundo, pode chegar até 150 toneladas. Imagine 353 mil baleias feitas de lixo! É o equivalente a produção anual de resíduo eletrônico no mundo. O Brasil é um dos líderes do ranking, ocupando a 5ª posição mundial e a 1ª na América Latina. Isso nos mostra que é urgente que ações sejam tomadas para melhorar esse cenário. Afinal, não queremos viver no mundo do Wall-E, não é mesmo?

Wall-E em um topo de montanha de lixo, inspecionando o lixo encontrado. Imagem: moviefone.com
Para piorar, no mundo todo apenas 17% dos 53 milhões são coletados para reciclagem, no Brasil menos de 3%. O restante desse material acaba sendo descartado de maneira inadequada trazendo enormes prejuízos para o meio ambiente. Uma observação importante é que os danos para o meio ambiente não acontecem somente no descarte, mas em todo o seu processo de fabricação: para um computador, por exemplo, são necessárias toneladas de insumos não renováveis e uma quantidade absurda de água.
De maneira geral, os impactos ambientais causados pelo lixo eletrônico podem ser divididos em três grandes grupos:
Redução do tempo de vida útil dos aterros sanitários: Os equipamentos eletrônicos têm em sua composição materiais tóxicos que demoram mais de um século para se decompor. Quando são descartados em aterros a céu aberto, acabam por aumentar o volume de lixo, reduzindo o seu tempo de vida útil, além de emitir gases para a atmosfera, colaborando assim com o aquecimento global.
Contaminação por metais pesados: As placas e circuitos elétricos contidos nos aparelhos eletrônicos possuem quantidades enormes de metais pesados, como chumbo e mercúrio. Por se tratar de substâncias altamente poluentes, contaminam o solo e água.
Danos à saúde pública: O descarte incorreto do lixo eletrônico causa danos à saúde da população que vive em torno dos aterros sanitários e também aos catadores que buscam nos aterros materiais para vender ou para o seu próprio consumo.
Mas nem tudo está perdido! Com o intuito de evitar esses problemas, a Política Nacional de Resíduo Sólido (por meio da Lei 13.576) determina que os setores envolvidos com a geração de lixo eletrônico adotem a logística reversa e se tornem responsáveis por aquilo que produzem, evitando assim o acúmulo de resíduos eletrônicos em locais inapropriados. A logística reversa é um sistema bem bacana que oferece aos consumidores uma forma segura e sustentável de descartar aparelhos que não têm mais utilidade. Para as indústrias, é uma oportunidade para diminuir seu impacto no planeta e ainda gerar novas rendas, transformando os resíduos em matéria-prima para outros processos industriais. O objetivo é criar um sistema econômico mais equilibrado com um modelo circular de produção, onde tudo pode ser reutilizado!

Economia Circular x Economia Linear (modelo atual). Imagem: Vagner Flores |LinkedIn
A primeira pesquisa de percepção da população brasileira sobre os resíduos eletrônicos pós consumo foi feita pela Green Eletron, em 2021. De acordo com o resultado obtido, os brasileiros ainda precisam se conscientizar mais sobre o lixo eletrônico, a possibilidade de reciclagem e a destinação correta. Também é preciso criar mais Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) no Brasil para aproximar a população do descarte e tornar isso um hábito. Esse cenário deve mudar com a população mais consciente e com a execução de iniciativas específicas de reciclagem. São muitas as razões pelas quais devemos reciclar os nossos aparelhos eletroeletrônicos, pilhas e baterias danificadas ou sem utilidade. Mas talvez a principal delas seja a questão ambiental: a reciclagem dos materiais que compõem um eletroeletrônico evita ou reduz em muito a extração de matérias-primas da natureza para a fabricação de um produto novo. Do total de resíduos gerados, a maioria tem a possibilidade de ser reaproveitado desde que coletados seletivamente para reaproveitamento e reciclagem, economizando recursos naturais, reduzindo o impacto ambiental na saúde e a necessidade de investimentos mais abundantes em aterros, gerando ao mesmo tempo trabalho e renda
Ao mesmo tempo, os recursos energéticos da Terra chegam perto do esgotamento a cada ano. O lixo eletrônico, quando inserido na logística reversa e reciclado, pode ser transformado em matéria-prima para a indústria, economizando energia, diminuindo a emissão de CO2 e ficando longe da natureza, onde pode ser prejudicial, como vimos a cima.
Durante a leitura desse texto, você se perguntou o que pode fazer? Caso sim, ficamos muito felizes, pois o objetivo desse texto foi cumprido! Caso não, te convidamos a refletir sobre como pode contribuir para um mundo melhor. Para isso, trouxemos algumas dicas do Movimento Eletrônico não é lixo:
O que você pode fazer?
Mude o seu pensamento: Fomos ensinados que tudo que não tem mais utilidade para nós é lixo. Isso não é verdade! Com reparos, doações e a reciclagem, nada realmente tem fim. Tudo pode ser transformado em novas possibilidades, novos futuros, um novo mundo.
Separe: Quando não há mais solução e os aparelhos e pilhas não podem ser consertados ou usados, temos que dar uma destinação sustentável para eles. Separe-os! Não transforme a sua casa em um museu e nunca jogue eles no lixo comum! Lembre-se, eletrônico não é lixo.
Faça: Vá até um Ponto de Entrega Voluntária e faça o descarte ambientalmente correto!
Você também pode aplicar os 5 R’s: reduzir, recusar, reciclar, repensar e reutilizar. Dessa forma, contribuirá para um mundo mais sustentável e saudável.
E lembre-se: Não existe jogar fora, o planeta é um só!
Separamos alguns sites úteis para você saber mais:
Encontre o PEV de resíduos mais próximo de você: Green Eletron - Localizador
O que pode ser descartado? Green Eletron - Lista Completa
Movimento Eletrônico não é lixo: https://eletroniconaoelixo.com.br/movimento/main.html
Tem um notebook velho e não sabe o que fazer? Programa conserta e doa computadores a escolas e bibliotecas | Agência Brasil (ebc.com.br)
Texto: Amanda Oliveira;
Pesquisa: Amanda Oliveira; Daffiny Kapitanovas;
Texto Instagram: Daffiny Kapitanovas;
Arte: Aline Freiria dos Reis.
Referências
Reis, E,K da S. O Uso da Logística Reversa para Minimizar os Impactos Ambientais causados pelo lixo eletrônico. 2021. Disponível em: <https://www.periodicorease.pro.br
/rease/article/view/2020/829> Acesso em 17 de maio de 2022.
Green Eletron. Quais os impactos socioambientais da reciclagem do lixo eletrônico? 2020. Disponível em: https://greeneletron.org.br/blog/quais-os-impactos-socioambientais
-da-reciclagem-do-lixo-eletronico-nosso-especialista-em-sustentabilidade-explica/>. Acesso em 17 de maio de 2022.
Green Eletron. Resíduos eletrônicos no Brasil - 2021. Disponível em: < https://greeneletron.org.br/pesquisa>. Acesso em 22 de maio de 2022.
Green Eletron. Eletrônico não é lixo. Disponível em: < https://eletroniconaoelixo.com.br/ >. Acesso em 22 de maio de 2022.
Melo, J. R; Cintra, L. S; Luz, C. N. M. Educação Ambiental: Reciclagem do Lixo no contexto escolar. Disponível em: < http://revista.faculdadeitop.edu.br/index.php/revista
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Santos, A. C.; Pontes, A. Educação Ambiental e Gestão dos Resíduos Sólidos: os 5 Rs da sustentabilidade. Revista Científica e-Locução, v. 1, n. 20, p. 18, 26 nov. 2021. Disponível em: <https://periodicos.faex.edu.br/index.php/e-Locucao/article/view/407>. Acesso em 22 de maio de 2022.
Fraguas, T; Gonzales, C. E. F. O lixo eletrônico no contexto da Educação Ambiental, seu histórico e suas consequências. Revista Cocar v. 14 n. 30: Set./Dez.2020. Disponível em: <O lixo eletrônico no contexto da Educação Ambiental, seu histórico e suas consequências | Revista Cocar (uepa.br)>. Acesso em 27 de maio de 2022.
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