Influenza: o perigo invisível da gripe e o papel vital da vacinação
- institutojapi
- 18 de jun.
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As epidemias sazonais de influenza são comuns e esperadas anualmente, especialmente durante o outono e o inverno, o que contribui para a naturalização da doença e a subestimação de seus riscos. Segundo De Souza e Ribeiro (2025), essas epidemias e pandemias podem ocorrer de forma repentina, atingindo o pico em poucas semanas. A gravidade depende da variação antigênica do vírus, do nível de proteção da população e da virulência da cepa circulante. A identificação precoce da linhagem viral e a produção da vacina são grandes desafios enfrentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), visto que esse processo pode levar mais de seis meses, tornando, por vezes, a vacina incompatível com o vírus predominante.
A influenza, ou gripe (mais popularmente conhecida) é uma infecção respiratória aguda e febril que afeta pessoas de todas as idades e, em casos graves, pode levar à morte. Seu perigo invisível reside na elevada capacidade de disseminação e no fato de que seus sintomas se confundem com resfriados leves, dificultando o diagnóstico e favorecendo a transmissão silenciosa. A OMS estima entre 3 a 5 milhões de casos graves por ano, com 200 a 500 mil mortes. Crianças, idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas estão entre os grupos mais vulneráveis. Aguilar et al. (2025) destaca que pacientes com doenças cardiovasculares correm riscos maiores de complicações, devido ao aumento de citocinas pró-inflamatórias que podem causar ruptura de placas ateroscleróticas.
O vírus influenza pertence à família Orthomyxoviridae e possui RNA de fita simples segmentada. Produz duas glicoproteínas importantes: hemaglutinina (HA), que permite a entrada no hospedeiro e neuraminidase (NA), que facilita a propagação. Essas glicoproteínas definem a classificação do vírus em subtipos, como o H7N9, detectado em 2013 na Ásia. Atualmente, são reconhecidos quatro gêneros de influenza: A, B, C e D.O tipo A é o mais significativo, pois está associado à maioria das pandemias e pode infectar tanto humanos quanto animais, já o tipo B afeta apenas humanos, o C é considerado o mais estável atingindo humanos e suínos, enquanto o tipo D circula somente entre animais.
Importante destacar que a gripe é uma doença zoonótica, com origem em animais como aves selvagens, porcos e cavalos. O contato humano com esses hospedeiros naturais facilita a infecção. Ações antrópicas, como desmatamento, urbanização e comércio de animais silvestres, contribuem para o aumento do risco de zoonoses, como Zika, Ebola, COVID-19 e a própria influenza, que têm potencial pandêmico.
A gripe é uma doença antiga, conhecida desde o século V, e foi responsável por pandemias devastadoras, como a gripe espanhola (1918–1920), a H2N2 na década de 1950 e a gripe de Hong Kong (1968–1969). Em 2009, o H1N1, conhecido como “gripe suína”, teve origem no México e se espalhou rapidamente, sendo declarado pandemia pela OMS, com mais de 18.500 mortes registradas.
Os sintomas da gripe incluem febre, dor de garganta, tosse, dor no corpo, calafrios, mal-estar e, em crianças, sintomas respiratórios e gastrointestinais. As complicações mais comuns são pneumonia, sinusite, otite, desidratação e agravamento de doenças pré-existentes. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias e contato com superfícies contaminadas.

Apesar do desenvolvimento de vacinas desde 1930, e sua chegada ao Brasil nos anos 1980, a adesão vacinal ainda é baixa. A Associação Paulista de Medicina (APM) apontou, em 2025, que apenas 31,88% dos grupos prioritários estavam vacinados, longe da meta de 90%. Fatores como medo de reações adversas, desinformação, e desconfiança quanto à eficácia da vacina contribuem para essa baixa cobertura. Mesmo assim, a vacina continua sendo a forma mais eficaz de prevenção e controle da doença, especialmente para os grupos vulneráveis.
A gripe também gera grande impacto econômico, com custos em consultas, hospitalizações e medicamentos. Nesse contexto, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas, como as vacinas gênicas baseadas em DNA, que estimulam respostas imunes mais completas e são mais rápidas e baratas de produzir, podendo ser cruciais diante de novas variantes do vírus.
Diante disso, compreender a origem, transmissão, mutações e formas de prevenção da influenza é essencial tanto para a proteção individual quanto para a saúde coletiva. É fundamental investir em vigilância, ciência e campanhas educativas. No Brasil, o Ministério da Saúde realiza anualmente a Campanha Nacional de Vacinação pelo SUS, com vacinas trivalentes compostas por vírus selecionados para o hemisfério sul, como A/H1N1, A/H3N2 e B/Victoria.
A criação do termo "vacina", por Edward Jenner em 1796, marcou o início de uma revolução na saúde pública. Vacinas são formadas por antígenos que desencadeiam uma resposta imunológica eficaz. No entanto, movimentos antivacina, impulsionados pela desinformação, têm crescido, tornando a população mais vulnerável. A não adesão vacinal facilita a propagação e mutação do vírus, podendo dar origem a novas cepas e até pandemias, com consequências graves para a saúde pública e economia.
Dados de 2025 revelam a gravidade da situação no Paraná, que registrou 991 casos e 85 mortes por influenza, das quais apenas nove pessoas foram vacinadas. Ainda assim, a cobertura vacinal ficou em apenas 42,11% entre os grupos prioritários, muito abaixo do ideal. Diante disso, o estado declarou urgência e reforçou a importância da vacinação.
Além das vacinas, o Ministério da Saúde recomenda medidas preventivas não farmacológicas, como higienização das mãos, uso de lenços descartáveis, evitar tocar mucosas, manter ambientes ventilados e evitar aglomerações. Essas ações, combinadas com a imunização, são essenciais para conter a disseminação do vírus e proteger a saúde coletiva.


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Pesquisa: Mariana Giancaterino Texto: Luana Rodrigues Artes: Bianca Lima
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