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Fragmentação florestal e suas consequências

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Imagine que você já possui uma rotina muito bem formada, extremamente funcional e efetiva para sua vida. Desde as coisas mais básicas como acordar em sua cama, levantar-se e caminhar até o banheiro, até mesmo nas coisas mais necessárias para sua existência, como pegar seu veículo e dirigir alguns quilômetros até seu local de trabalho. Tudo tranquilo até aí, certo?

Agora, como seria se sua casa fosse dividida ao meio, e do quarto para o banheiro passasse a existir um vão de 10 metros de largura, com pessoas desconhecidas disputando cada cômodo contigo. Imagine, ainda, um obstáculo diferente, em movimento, a cada esquina do caminho de casa até sua empresa. Ficou mais difícil? Impossível, talvez? Pois bem, estamos falando da Fragmentação Florestal e como isso tem afetado a existência de todo um ecossistema. E você precisa entender o porquê!

A fragmentação florestal, que por definição é um processo no qual áreas contínuas de vegetação natural são subdivididas em manchas de tamanhos diversos, pode sim existir naturalmente, e existe. Geralmente, nestes casos, em sua maioria são consequência da derrubada de árvores por ventos muito fortes e deslizamentos após chuvas torrenciais.

Contudo, este processo vem ocorrendo de maneira acelerada e alarmante a partir de ações antrópicas, ou seja, realizadas por seres humanos, que tem por principal objetivo a demanda por terra, seja para produção de alimentos, aumento das áreas de pastagens, construções de rodovias ou deposição de resíduos. Logo, o crescimento acelerado da população, associado ao desmatamento para expansão urbana, são apontados, segundo estudos, como os principais fatores na intensificação deste processo.

A partir deste aumento das fragmentações, surgem diversas consequências para a floresta original daquele local, uma vez que a fauna e flora ali presentes, previamente adaptadas ao habitat, se veem expostas a novos e desconhecidos fatores, como alterações na temperatura, vento, umidade e luminosidade. Isso tem uma tendência maior a ocorrer nas margens naquele local fragmentado. A este processo, damos o nome de ‘’Efeito de Borda”.

São, principalmente, nas áreas de borda que ocorre a maior degradação daquele fragmento. Pois, pense bem, onde há a maior chance de indivíduos da fauna daquele local virem a morrer, seja por predação ou atropelamentos, por exemplo? No interior do fragmento, ou mais exposto em suas extremidades?

Além disso, em relação a flora, por exemplo, existe um risco mais significativo de espécies vegetais invasoras, que estão mais adaptadas a ambientes abertos e/ou expostos, se apropriarem das chamadas áreas de borda, afetando o curso ecológico natural de diversos biomas.

Falando em biomas, um dos que merece destaque quando o assunto é fragmentação florestal, é a Mata Atlântica. Pois, esse bioma que anteriormente ocupava grande parte do território nacional, é atualmente um mosaico de fragmentos quando comparado às florestas tropicais. Com isso, podemos dizer sem orgulho nenhum que possuímos em nosso país um dos ecossistemas mais fragmentados do planeta. Um Hotspot mundialmente reconhecido, a ponto de explodir!

Tá, mas quais são de fato as consequências reais provenientes dos fragmentos florestais em nossas vidas?

Primeiramente, precisamos entender que as consequências finais dos fragmentos estão diretamente relacionadas com seu tamanho e distância. Se estivermos falando de fragmentos grandes, com um pequeno distanciamento entre eles, um deslizamento de solo, por exemplo, trará consequências muito mais pontuais. Entretanto, é mais comum se tratar de um fragmento menor e mais isolado, com uma chance muito maior de perda da biodiversidade e da qualidade ecológica daquele habitat.

Existem, ainda, casos de fragmentos muito distantes um do outro. Nestes casos pode haver a necessidade de intervenção, como por um corredor ecológico. Esres, simplificadamente, são elementos de formação linear, que tem por função a conexão dos núcleos dos fragmentos, permitindo o deslocamento seguro de espécimes e, por consequência, do fluxo gênico entre as espécies vegetais e animais.

É importante ressaltar que quando as espécies são impossibilitadas de transitar entre os fragmentos, ocorre uma implicação direta em várias relações ecológicas da região, como na dispersão de sementes, na polinização, predação, manutenção das populações ali remanescentes, dentre outras consequências.

É importante, que consigamos associar estas consequências aos efeitos cascata que são carregados com elas, como extinções locais, perda de processos naturais, redução na permeabilidade do solo, e então os alagamentos, processos erosivos, alteração do microclima e aumento do efeito estufa, ou seja, afetando sem desvios nossa existência enquanto parte de um ecossistema.

Em suma, chegamos mais uma vez num questionamento comum: Alguém está fazendo algo para mudar esse cenário? A cidade de São Paulo, por exemplo, possui alguns parques referência em relação à conservação da biodiversidade, como o Parque Estadual da Cantareira, que quase não apresenta políticas públicas voltadas à mitigação destes impactos.

Outro dado alarmante, apontado pelo CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas), é que mais de 15 animais morrem por atropelamento nas estradas brasileiras a cada segundo! 475 milhões de animais silvestres são atropelados todo ano em território nacional! E cadê a legislação? Por onde anda a fiscalização? O gato-do-mato comeu sua língua?

Por fim, compreender que a fragmentação florestal é sim um problema de políticas públicas, e que impacta diretamente em nossas vidas é imprescindível. Já passou da hora das ações antrópicas não fiscalizadas serem freadas e de começar a se fazer pensar em formas de restaurar e recuperar as áreas mais degradadas.

Arte: Aline Freiria dos Reis;

Texto: Raphael Martins;

Pesquisa: Amanda Oliveira; Daffiny Kapitanovas;

Texto Instagram: Daffiny Kapitanovas.

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