
A discussão da educação sexual é sempre um tabu, onde de um lado os estudiosos defendem que a criança aprender desde cedo diferenciar carinho de um toque indevido em seu corpo ajuda a combater o abuso infantil, e do outro existe a ideia preconcebida de que isso vai sexualizá-la. Porém, não é nada além de mais um meio de garantir a segurança e a saúde das crianças e adolescentes, dando acesso à informação correta e conhecimento sobre os estágios naturais do desenvolvimento humano.
Educar sexualmente crianças e jovens é uma tarefa complexa para os pais e os educadores nas escolas, um um assunto delicado, que deve ser tratado de forma natural ou o mais próximo do natural possível, sendo que se o tema for tratado com naturalidade desde cedo, mais fácil se tornará quando eles forem crianças maiores ou adolescentes para que, por exemplo, eles compreendam quando houver um comportamento abusivo por parte de um adulto ou de crianças mais velhas.
Mas afinal de contas, o que é de fato a educação sexual?
É também chamado de educação em sexualidade, um tema que começou a ser abordado no início do século XX, tendo como foco principal o controle epidemiológico, onde naquele período, enfrentavam-se grandes problemas que envolviam também a saúde sexual. Porém naquela época, prevaleciam discursos que eram, em geral, coercivos, de moral religiosa e reforçados pelo cunho higiênico das estratégias de saúde pública. O tema envolve uma série de conhecimentos sobre corpo humano, saúde, bem-estar, consentimento, responsabilidade, sentimentos, identidade, autoproteção e tipos de toques que os estão autorizados ou não em relação ao corpo da criança e do adolescente, como forma de prevenção à violência sexual, na qual nenhuma educação sexual visa ensinar ou estimular que os alunos pratiquem algum tipo de ato sexual em si.
Para a educação integral, a responsabilidade pela educação sexual de crianças e adolescentes é compartilhada entre famílias e escolas, e se mostra como alternativa de fonte mais segura de informações do que a internet ou outros meios afins e, por isso, é de extrema importância que os professores consigam abordar esse tipo de assunto dentro da sala de aula, com o objetivo de os alunos aprenderem a diferença de afeto e abuso, a conhecerem o próprio corpo e poderem se defender de uma possível violência sexual, principalmente na primeira infância.
Além disso, educação sexual para adolescentes ajuda a prevenir doenças sexualmente transmissíveis e uma indesejada gravidez na adolescência. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), em 2015, dos adolescentes do 9° ano do Ensino Fundamental sexualmente ativos, 33,8% disseram não ter usado camisinha na última relação sexual. Apesar disso, 7 em cada 10 afirmaram ter recebido informação a respeito na escola. Ou seja, apenas passar informação não é suficiente, sendo de extrema importancia que os jovens conheçam o próprio corpo, tenham um ambiente seguro para tirar dúvidas, ao invés de aprender sobre sexo através de pornografia ou longe de ambientes seguros.
Existem vários documentos nacionais e internacionais produzidos a partir de conferências realizadas no Cairo e Pequim, na década de 1990, que dão suporte a uma Educação sexual que vá além da abordagem reprodutiva, como a Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Esporte (Unesco), de 2018, que também aborda o combate ao preconceito, ao abuso sexual infantil e à violência contra a contra a mulher e a comunidade LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), questões fundamentais para o Brasil, que ainda convive com índices alarmantes de crimes assim referidos. Desse modo, ensinar a educação sexual serve para que os jovens desenvolvam conhecimento, habilidades e valores éticos para fazer escolhas saudáveis e respeitáveis sobre os relacionamentos, o sexo e a reprodução. Sendo na escola o lugar mais adequado para passar esse conhecimento, integralmente abordado, de maneira natural, nos assuntos cotidianos e nas atividades do dia-a-dia, nas brincadeiras e jogos,pois a sexualidade é manifestada de maneiras diferentes e em idades diferentes no processo do desenvolvimento humano, não somente nas disciplinas de ciências e biologia, onde há um foco maior na abordagem reprodutiva apenas, devendo ser também tratado de maneira multidisciplinar, pois envolve também conhecimentos da sociologia, biologia, medicina, psicologia, filosofia, educação, teologia, etc, porque a sexualidade comporta dimensões biológica, psicossociais e culturais. Sendo assim, a educação sexual é um método essencial e qualificado para garantir a saúde e segurança, em todas as suas etapas de desenvolvimento, garantindo também um futuro saudável dos jovens, visando exercer uma boa relação com seus e demais corpos, praticando o respeito e mantendo sua integridade, como toda criança merece.
Arte: Natália Lavínia A. de Souza;
Texto: Mariana G. Furquim;
Pesquisa: Aline Freiria dos Reis; Leonardo Plens;
Texto Instagram: Aline Freiria dos Reis.
Referências Bibliográficas:
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