A Ciência Forense é uma área que encanta muitos entusiastas do mundo policial, principalmente por sua popularidade nas séries televisivas dos últimos anos. Apesar dessa popularidade, pouco se sabe sobre as áreas de atuação por trás dessa profissão, como por exemplo a Botânica forense, que tem um papel fundamental no combate à criminalidade, identificando criminosos, locais de delitos e até mesmo a época em que ocorreram esses crimes, através da identificação de vestígios de plantas.
Para isso, o Biólogo Forense aplica diversas técnicas de análise às provas recolhidas no local do crime. Deve reconhecer, coletar, preservar e analisar adequadamente os vestígios botânicos. Uma das técnicas utilizadas mais conhecidas é a palinologia, que é o estudo do pólen e outros palinomorfos. Isso porque o pólen é encontrado em grande quantidade na maioria das vezes, tendo resistência ao meio em que se encontra, sendo menos suscetível à degradação. Esta técnica pode auxiliar na identificação do local de deposição do cadáver e ligar suspeitos e objetos a locais de crime, por exemplo. Ela foi utilizada pela primeira vez em 1959, na Áustria, quando o corpo de um homem foi encontrado desaparecido em Viena, supostamente assassinado. Segundo o jornal El Mundo (Espanha), um par de sapatos enlameados de um suspeito foi examinado pelo palinólogo Wilhelm Klauss, que encontrou na lama, pólens de várias plantas e, entre eles, os de uma nogueira fóssil que se extinguiu há cerca de 20 milhões de anos. Com essas características, havia um terreno a 20 km a norte de Viena. Espantado com esses resultados e pressionado pela polícia, o suspeito confessou o crime e levou os investigadores ao local onde tinha escondido o corpo. Assim fica mais que evidente que as plantas oferecem um papel fundamental no combate a criminalidade, já que nas evidências podem ser identificadas por análises macro e microscópicas da anatomia vegetal e serem identificadas utilizando-se apenas 1 mm de seu tecido ou 5 grãos de pólen.
Portanto, as possibilidades de se aplicar a botânica no âmbito criminalístico são muito mais amplas: pode servir para rastrear o ponto de origem de um carregamento de drogas, como também no rastreamento de toxinas em caso de bioterrorismo (terrorismo que se utiliza de agentes biológicos para causar morte ou doença em seres humanos, animais e plantas) ou na análise do conteúdo estomacal de pessoas envenenadas, investigando as toxinas vegetais.
No Brasil, a Botânica Forense teve um ótimo desempenho no caso “Nakashima”, em 2010, onde um corpo desaparecido no dia 23/05, foi encontrado na represa de Nazaré Paulista/SP. Nos sapatos do suspeito, foram coletadas algas do gênero Chaetophora, que foram identificadas como subaquáticas, de água doce, que ocorre em baixas profundidades, comum no local onde o corpo foi encontrado. O caso foi encerrado e o réu, condenado a 20 anos de prisão, segundo o jornal O Globo.
Sendo assim, a prática tornou-se essencial para o desmembramento de inúmeros casos criminais no país e no mundo. Porém, apesar da importância do tema, o uso dos conhecimentos botânicos na solução de crimes ainda é embrionário no Brasil. Além da falta de recursos e das dificuldades em utilizar esta prática, seu uso é muito desestimulado, admitem os Biólogos Forenses. Além do mais, mesmo sendo uma área muito extensa e importante na investigação forense, ela acaba tendo sua importância pouco reconhecida, tendo seu uso limitado à morfologia sistemática e taxonomia com identificação de espécies e de plantas ilegais apenas.
Outro problema enfrentado nesta área aqui no país é que são necessárias pesquisas para estabelecer protocolos que orientem e unifiquem as tarefas dos peritos e que forneçam dados que auxiliem a interpretação dos resultados das perícias, pois a vegetação brasileira é diferente da de países onde os protocolos tradicionais foram elaborados. Países de clima temperado com baixa diversidade também precisam adaptar esses protocolos. Além disso, a execução das tarefas policiais também é influenciada por fatores regionais, o que deve ser reestruturada de acordo com a demanda de cada localidade.
Enfim, fica mais do que clara a relevância da Botânica forense no auxílio das investigações criminais, mostrando que a formação profissional na interpretação das evidências e no reconhecimento de plantas pode ser de grande ajuda na resolução de casos forenses, criminais ou outras questões legais que possam precisar da ajuda do biólogo forense para sua solução.
Arte: Daniela Brustolin Texto: Mariana Furquim
Pesquisa: Aline Freiria; Texto Instagram: Aline Freiria
Leonardo Plens
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