
Imagine só como nós, Homo sapiens, estaríamos hoje em dia sem ter descoberto o fogo, mesmo depois de 200 mil anos de evolução. É difícil imaginar nossa vida cotidiana sem luz, sem calor, até mesmo para as coisas mais simples, como o café de cada dia. Usando essa analogia, podemos pensar a mesma coisa da fotossíntese, pois toda a vida no nosso Planeta depende desse processo. Processo que plantas, algas, algumas bactérias verdes e até mesmo animais fotossintetizantes, convertem a energia solar em energia química, produzindo compostos orgânicos. Antes de falar sobre a sua importância vamos relembrar como ocorre o processo fotossintético. Fotossíntese significa síntese (produção) pela luz e ocorre em duas etapas: reação luminosa ou fotoquímica e reação de fixação de carbono, nos cloroplastos, que são organelas presentes nas células dos organismos eucariontes que fazem a fotossíntese. Nelas armazenam-se os chamados pigmentos fotossintetizantes, que são responsáveis pela absorção da luz. Dentre esses diversos pigmentos, como as clorofilas, carotenóides e ficobilinas, destaca-se a clorofila como principal, sendo encontrada em todos os organismos fotossintetizantes.
Quando se fala nesse processo, pensamos somente nas plantas, por estar diretamente ligado à elas, mas se engana quem pensa que são apenas estes os seres beneficiados com o processo, pois é a energia contida na matéria orgânica produzida pelos organismos autótrofos (seres que produzem o próprio alimento) que é transmitida aos heterotróficos (os que não produzem seu próprio alimento) pela cadeia alimentar, ou seja, é essencial também para os animais carnívoros que consomem outros animais que alimentam-se de vegetais e claro, além de consumir o oxigênio, que os seres fotossintetizantes liberam para a atmosfera, garantindo a respiração aeróbica dos próprios vegetais e animais incluindo nós, seres humanos.
E como é citado na bela canção “Luz do Sol” de Caetano Veloso, a frase “Luz do Sol que a folha traga e traduz, em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz”, descreve como a fotossíntese transforma a energia solar em toda a vida do nosso Planeta Terra.
Então os seres fotossintetizantes convertem moléculas simples como o CO2, em moléculas orgânicas, com liberação de O2. Assim o processo possibilita o "sequestro de carbono” da atmosfera e, durante a respiração da maioria dos organismos, ocorre o consumo de oxigênio e liberação de gás carbônico. É esse um ciclo equilibrado de retirada e liberação de carbono na atmosfera que favorece a existência de vida.
Outros seres capazes de realizar a fotossíntese foram descobertos recentemente, existindo um pequeno número de animais muito interessantes: Foram descobertas espécies capazes de processar a luz solar numa simbiose com as algas, como a Elysia chlorotica, uma lesma/lebre do mar de cor verde com o aspecto muito parecido ao de uma folha, capaz de viver meses "alimentada" pela luz do sol, como se fosse uma planta. Outra tática de alguns outros membros desse grupo, é a chamada cleptoplastia, na qual eles "roubam" cloroplastos de algas para incorporá-los em suas células digestivas, escravizando as algas para extrair esses cloroplastos e se alimentar deles se beneficiando do processo fotossintéticos das algas.
Corais também fazem uma simbiose com as algas que vivem dentro deles, oferecendo a proteção de predadores e mudanças ambientais a essas algas e elas, produzindo alimento para os corais. Foi observado pelos cientistas que cada pólipo de coral (forma individual desses animais) abriga uma espécie de alga, e estas fornecem energia ao coral por meio da fotossíntese, auxiliando também em sua calcificação.
Nos dias de hoje, se conhece um único vertebrado 'fotossintético'. Uma salamandra da família Ambystomatidae, também capaz de manter uma relação simbiótica com as algas. Em uma endossimbiose (simbiose interna) os embriões da salamandra se beneficiam da fotossíntese. As algas vivem nos ovos dentro dos embriões, onde atuam como “usinas de energia” internas que geram alimento para as salamandras. A alga entra no ovo, e lá o embrião descarta a matéria com a qual a alga se alimenta e, por sua vez, a alga realiza fotossíntese e libera oxigênio que o embrião absorve.
Além da fotossíntese, um outro processo de produção de matéria orgânica (glicose) realizado por alguns organismos como algumas espécies de bactérias, é a quimiossíntese. Esse processo utiliza a energia obtida pela oxidação de moléculas inorgânicas, como a amônia, o metano, sulfetos de hidrogênio ou nitritos para realizar um conjunto de reações, resultando na produção de matéria orgânica utilizada como fonte nutritiva para os seres autotróficos.
Atualmente a liberação de CO2 para a atmosfera está maior do que os seres fotossintetizantes conseguem consumir, assim como o desmatamento desenfreado das florestas. A queima dos combustíveis fósseis, onde há carbono aprisionado, acaba liberando esse carbono para a atmosfera na forma de gás carbônico, havendo um aumento do CO2 na atmosfera, afetando diretamente a vida de todos os seres vivos, inclusive o ser humano, pois gera também o aumento da temperatura da Terra.
Estima-se que 50 a 80% da produção de oxigênio na Terra vem do oceano, sendo que a maior parte dessa produção é do plâncton oceânico, plantas à deriva, algas e algumas bactérias fotossintetizantes. Existe uma espécie em particular, a Prochlorococcus, uma bactéria que é o menor organismo fotossintético da Terra. E mesmo pequena, produz até 20% do oxigênio em toda a nossa biosfera. Essa é uma porcentagem proporcional a de todas as florestas tropicais juntas.
Assim como os animais terrestres, os animais marinhos usam oxigênio para respirar, e tanto as plantas quanto os animais usam oxigênio para a respiração celular, então embora o oceano produza pelo menos 50% do oxigênio da Terra, aproximadamente a mesma quantia é consumida pela vida marinha. Também é consumido oxigênio quando plantas e animais mortos se decompõem no oceano. Portanto, diminuir as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa, juntamente com a conservação das nossas florestas, da nossa biodiversidade é uma das formas de suavizar os efeitos do aquecimento global, que tanto se fala atualmente.
Nós, e todas as outras formas de vida, somos totalmente dependentes da fotossíntese, um processo que nos fornece alimento e oxigênio e que ameniza a temperatura da Terra. Podemos concluir que a sobrevivência de todos os seres depende muito da continuidade processo fotossintetizante e seus organismos em nosso Planeta.
Arte: Daniela Brustolin; Texto: Mariana G. Furquim;
Pesquisa: Aline Freiria dos Reis; Texto Instagram: Aline Freiria dos Reis.
Leonardo Plens;
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